ATA DA PRIMEIRA SESSÃO ESPECIAL
DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 1º.03.1989.
Ao primeiro dia do mês de março
do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões do
Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Primeira Sessão
Especial da Décima Legislatura. Às dezesseis horas e quatorze minutos,
constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abetos os
trabalhos da presente Sessão Especial, destinada à exposição da Sra. Secretária
Municipal de Educação, Esther Grossi, nos termos do artigo 201 do Regimento
Interno, sobre questões educacionais do Município de Porto Alegre, e convidou
os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário a autoridade presente.
Compuseram a Mesa: o Ver. Valdir Frege, Presidente da Câmara Municipal de Porto
Alegre; Ver. Isaac Ainhorn, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto
Alegre e Sra. Esther Grossi, Secretária Municipal de Educação. A seguir, o Sr.
Presidente passou a palavra à Sra. Esther Grossi, a qual discorreu sobre a proposta
de trabalho da Secretaria Municipal de Educação e, respondendo aos quesitos
formulados para esta Sessão Especial, declarou que essa Pasta vem realizando
mutirão nas vilas, a fim de apurar o número de crianças que se encontram sem
escola e a metodologia empregada nessa pesquisa de busca do número de
excedentes. Analisou, ainda, os motivos que levam essas crianças a não
freqüentarem a escola. Asseverou, também, que a transformação dos CIEMs de
turno único em dois turnos é medida imperiosa diante do número de excedentes e
da pressão das comunidades onde estão localizados os Centros. Por outro lado,
problemas surgidos com as transformações do turno único em dois turnos, serão
resolvidos com a criação de atividades alternativas, contando com o apoio das
outras Secretarias, além de um trabalho de agremiações, com a ajuda dos
Círculos de Pais e Mestres. No tocante à alimentação, declarou estar engajada
em pesquisa, há mais de dez anos, que tem como primeira preocupação saber qual
a responsabilidade desse item na aprendizagem. E que a alimentação nos CIEMs
será mantida, a despeito da implantação dos dois turnos. Discorreu, ainda,
sobre a questão das obras do Município, que estão por ser concluídas, das
dificuldades opostas para tal, além dos entraves encontrados para colocá-las em
funcionamento, tendo em vista o custo para manutenção física e organizacional.
A seguir, o Sr. Presidente passou a chamar os Vereadores inscritos para falar.
O Ver. Isaac Ainhorn, discorrendo sobre o temário, declarou não existirem soluções
concretas até o momento, e que a desmobilização dos CIEMs não configura o
saneamento dos problemas. O Ver. Valdir Fraga reportou-se à situação dos
quarenta mil alunos excedentes e questionou o fato de ser alterado o
funcionamento dos CIEMs, sem haver sido feita consulta ao Conselho
Administrativo Pedagógico. O Ver. Artur Zanella referiu-se à situação da
questão alimentar e também indagou da situação dos CIEMs da Restinga, nos quais
já havia sido convencionado o turno integral. O Ver. Wilton Araújo registrou
sua desconformidade com as modificações feitas pela Secretaria, sem que fosse
ouvido o Conselho, mas apenas as Direções das Escolas. Na ocasião, o Ver. Dilamar Machado
levantou a questão da
capacidade do CIEM da
Chácara das Pedras, construído para atender uma demanda de novecentos e oitenta
alunos e, agora, declarado com capacidade para abrigar quatrocentos alunos. A Ver. Letícia Arruda,
ao discursar sobre o assunto, solicitou à Sra. Esther Grossi que relatasse sua
experiência como alfabetizadora no CIEM João Goularte e, também, comentando
declarações da Sra. Secretária, questionou o auxílio que adviria do Banco
Mundial a fim de construir escolas simples, com mais eficácia junto aos núcleos
habitacionais. O Ver. Vieira da Cunha discorrendo sobre a questão dos
excedentes e da modificação dos turnos dos CIEMs, questionou a escola modelo
preconizada pelo PT em caso de não continuar a filosofia da construção dos CIEMs. O
Ver. Luiz Machado, lembrando a campanha eleitoral para a Prefeitura de Porto Alegre no ano que passou, declarou não ser a conquista da
construção de CIEMs
nas vilas, tais como na Restinga, um presente do último Prefeito, mas uma
conquista dos moradores dessas áreas, que reivindicam uma escola para seus
filhos da qualidade dos
CIEMs. O Ver. Heriberto Back, abordando o tema, reportou-se à situação das escolas que foram construídas pela própria comunidade e a
falta de apoio do Governo do Estado para mantê-las em funcionamento. Declarou,
ainda, sob esse aspecto, que se deve fazer reconhecimento à Administração
Municipal anterior por ter investido na reconstrução da rede escolar municipal. O Ver. José Valdir
referiu-se às indagações feitas pelos demais Edis com referências aos destinos
que a Administração da Frente Popular daria aos CIEMs e Casas da Criança.
Acrescentou, ainda, ser tal discussão gerada pela divergência de diretrizes de
educação entre a atual e a anterior administração municipal. Por fim, declarou
serem tais mecanismos
– CIEMs e Casa da Criança -, inviáveis financeiramente. O Ver. João Motta
discorreu sobre a questão dos excedentes, enfatizando que a anterior Secretária
de Educação não admitia a existência desse quadro em Porto Alegre. Declarou, ainda, que a questão da educação não se
compõe unicamente da problemática física, do prédio em si, mas também de uma
filosofia metodológica, a qual está-se implantando com a atual Administração. O
Ver. Adroaldo Correa
reportou-se à questão da transformação do horário integral dos CIEMs em dois
turnos e solicitou à Sra. Secretária amiudasse a proposta pedagógica da atual
Administração e do que é capaz uma instituição de turno integral diante da educação formal. E o
Ver. Flávio Koutzii analisou as diretrizes apresentadas e discutidas. Afirmou,
por fim, que a orientação da atual Secretária segue uma política que não improvisa sobre educação.
Durante os trabalhos, o Sr. Presidente respondeu Questão de Ordem do Ver. Artur
Zanella acerca da distribuição em avulsos das declarações feitas pela Sra. Secretária da Educação. A seguir, o Sr. Presidente agradeceu o comparecimento da Titular da
Pasta da Educação do
Município e declarou
encerrados os trabalhos às vinte horas, convocando os Srs. Vereadores para a
Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos
pelos Vereadores Valdir Fraga e Isaac Ainhorn e secretariados pelo Ver. Isaac Ainhorn. Do que eu, Isaac Ainhorn, Secretário “ad hoc”, determinei
fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será
assinada pelos Srs.
Presidente e 1º Secretário.
O SR. PRESIDENTE
(Valdir Fraga): Declaro
abertos os trabalhos da presente Sessão Especial em que a Câmara de Vereadores
recebe a Secretária de Educação do Município, Profª Esther Grossi. Por
solicitação, Requerimento, do Ver. Isaac Ainhorn, acompanhado pelas assinaturas
dos Vereadores Clóvis Brum e Artur Zanella, e aprovado por uma unanimidade
desta Casa.
É uma honra e um prazer desta
Casa recebê-la, Secretária, é a primeira visita oficial. Considere um convite e
não uma convocação desta Casa a S. Exª, portanto, sinta-se à vontade. Eu, como Presidente da Casa, como
Vereador, entendo que é um início, está se desenvolvendo um trabalho que nós
acreditamos que ninguém poderia assumir uma Secretaria, uma Câmara, querendo
desenvolver um trabalho pior do que passou, porque eu entendo que o que passou foi excelente, mas sempre
a pessoa que entra, ou numa Secretaria ou em uma Prefeitura quer fazer o melhor.
Eu tenho certeza de que a Professora está com seus
Assessores, com seu grupo de trabalho, tentando desenvolver um bom trabalho.
Com a palavra, a Srª Secretária de Educação.
A SRA. ESTHER PILLAR GROSSI: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, demais presentes
ao Plenário. Para mim realmente é uma satisfação poder estar aqui para debater com
o Poder Legislativo as medidas entendidas por nós como necessárias a serem
tomadas na Secretaria de Educação, que realmente tem esta responsabilidade grande de pensar em todas as crianças de Porto
Alegre, de 06 a 14 anos, pelo menos. Nós temos ainda duas escolas de segundo grau.
Gostaria de dizer que ao assumir a Secretaria de Educação a bagagem que eu
trazia era já de alguém empenhada e dedicada à educação há 18 anos. Nesses 18 anos de
trabalho, a consciência clara que eu trazia era de
que as crianças de classes populares em nosso País, mas também no mundo todo,
estão marginalizadas da educação. Os índices de aproveitamento dessas crianças são muito baixos e
nesse sentido é que eu já vinha trabalhando,
nos oito primeiros anos em matemática e nos dez seguintes em alfabetização
integrada com outras disciplinas. Inclusive com uma bagagem minha, pessoal, de
condições de alfabetizar crianças que é o grande ponto de estrangulamento das
crianças de classe populares. No Brasil, os dados são de que 50% das crianças
brasileiras matriculadas na 1ª série não logram aprender a ler e escrever em um ano, isto é, não passam para o
segundo ano. E que existem – são os dados da Fundação Educar – 53 milhões de analfabetos jovens e
adultos. Então, somos
realmente uma indústria eficiente de produzir analfabetos. Esse dado tem que
ser entendido: se são
50% globalmente em todo o Brasil, esses 50% não se distribuem igualmente de
acordo com as camadas da população. Nas camadas de classe alta e média, nas escolas do Centro da Cidade, o
aproveitamento nesta série é da ordem de 95%. Para dar 50% de média é porque
nas classes populares o índice é muitíssimo mais baixo. Então, trazíamos esta grande
preocupação de que íamos enfrentar uma Secretaria de Educação com uma rede, que
eu considero um privilégio para mim, dada a especialidade, só de escolas na
periferia. Que não o mesmo que acontece com o meu colega Paulo Freire, em
São Paulo, que tem 713
escolas distribuídas
entre as classes média e classe popular. Então,
realmente, ele tem um problema, porque aprender não é alguma coisa genérica.
Uma proposta didática não é alguma coisa que se faça igualmente para todas as
crianças. Uma proposta didática é um conjunto de atividade que faz construir
alguns conhecimentos por uma população determinada e essa população é decisiva na construção dessa proposta. Então, este
privilégio que tenho, que penso que tenho, de nós podermos, em Porto Alegre,
nos dedicar na aprendizagem das crianças de classe populares, com exceção das duas escolas de 2º grau, que uma delas fica na Vila
Medianeira; realmente, aí, a problemática é outra.
Entrando, então, na Secretaria de Educação, nós tínhamos uma denúncia
generalizada da Cidade do grande número de excedentes existente. Por outro
lado, nós
precisávamos, como
condição de planejamento, poder avaliar concretamente qual era a dimensão deste
problema, porque deste
problema derivaria uma grande parte do nosso planejamento. Então, já entramos na Secretaria
com a disposição de poder avaliar minimamente quantas crianças em Porto Alegre
estariam em idade escolar, de sete a quatorze anos, de preferência de seis a
quatorze. Mas, os de sete a quatorze anos eram mais prementes para nós em função de que já eram
crianças que já tinham que começar uma escolaridade e que, socialmente, têm
muitas implicações. Sabíamos que era impossível, antes do início das aulas, fazermos um censo,
porque o censo, se sabe, todos os recursos que demanda, todos os gastos que
demanda, como encontramos os cofres rapados, fazendo inclusive um dívida de 5 bilhões e meio para
pagar a folha de janeiro e já estava previsto isto desde os primeiros dias de
janeiro, realmente não podíamos pensar em fazer um censo com exigência de gastos. Então,
previmos uma sondagem por amostra, usando funcionários da própria SMED, mas
voluntários, fazendo apenas uma permuta de dia de trabalho, porque eles
trabalhavam nos
domingos e nós
liberamos nos dias de semana do trabalho. Foi feito com aqueles que realmente
queriam, não oneramos a Secretaria em termos de dinheiro. Além disso, utilizamos o voluntariado que
nós solicitamos pela
imprensa e realmente
tivemos uma acolhida
favorável de educadores da Cidade de Porto Alegre e mesmo de outras pessoas que
se ofereceram para nos ajudar neste mutirão. Qual o sentido deste mutirão? Era
podermos ter uma idéia
aproximada do número de crianças que estariam em Porto Alegre, inclusive para
sensibilizar agências financiadoras. Por exemplo, hoje eu tive uma reunião com
o Banco Mundial e, realmente, sem ter nenhum referência sobre isso não se pode argumentar em favor de auxílios e
benefícios para nós, que, aliás, são de direito nosso, pois quem não sabe que já há muito dinheiro nosso dentro do dinheiro
americano? Então, seria apenas a mera devolução para nós. Como foi pensado este mutirão? Vamos
fazê-lo aos sábados e domingos, porque sabemos que os pais das classe populares
trabalham – mãe e pai – quase sempre durante todo o dia e nós
queríamos dar a oportunidade para que eles se manifestassem durante o
fim-de-semana. Dividimos Porto Alegre em 13 regiões montamos postos, não só nas
escolas, mas também nas associações comunitárias mais próximas para ver se facilitávamos
o encaminhamento dos pais cujas crianças não tinham ainda vaga. No primeiro
fim-de-semana, realmente, a procura de pais foi pequena. Mas, em alguns
lugares, como por exemplo na Vila Cruzeiro, onde a Evinha funcionou como
volante, como as pessoas não vinham à associação comunitária, ela resolveu
sair à procura dos pais. E assim fez. No final do dia, ela disse: “As pessoas não vinham à associação
comunitária e, no entanto, olha aqui a lista, o conjunto de fichas que
apareceram.” O mesmo
aconteceu em outros lugares, sem visitar todas as ruas da vila, o que nos levou a fazer uma
reformulação do mutirão para o segundo fim-de-semana. No segundo fim-de-semana, ao invés de as pessoas ficarem
retiradas nos postos, esperando que os fiscais viessem, nós fomos ao encontro dos pais porque
tínhamos constatado que realmente esses pais tinham resistência a se denunciarem como
tendo filhos excedentes, porque é da Constituição, é da Lei que os pais devem
colocar os seus filhos na escola e eles se sentiam culpatibilizados por isto e muitos deles sabiam que no
emprego tinham que levar o boletim dos filhos para receber o abono e que não tendo isso eles tinham esse receio.
Nós, então, fizemos uma pedagogia de tranqüilização desses pais e o que acontecia era
justamente que não era o próprio que vinha, espontaneamente nos procurar, eram
os vizinhos que nos informavam, lá naquela casa tem criança sem escola, naquela outra casa também
tem e desta maneira, juntando as poucas crianças que vieram no primeiro fim-de-semana e as que vieram no segundo fim-de-semana no mutirão, nós temos aqui, passados já para o
computador, porque tivemos a seguinte preocupação: tratamos, antes disso, com a
SEC, porque havia
para nós a seguinte
dúvida: se nós fôssemos fazer só o levantamento por nossa conta, já havia um número de crianças inscritas como excedentes nas
escolas do Estado. Por outro lado havia crianças matriculadas, já, tanto nas nossas escolas como nas escolas do
Estado. Como nós
poderíamos ter segurança que essas pessoas que se inscreviam no nosso mutirão eram realmente excedentes? Ou seja,
que não estavam nem já na escola ou já inscritas esperando vaga na escola do Estado ou na
escola do Município?
Então, procuramos o Estado, já desde o início, desde a primeira semana de
trabalho pressionando o Secretário de Educação do Estado a respeito da reforma
das escolas que foram interditadas no ano passado e das novas que deviam ser construídas, porque sempre há uma projeção
de aumento do número de crianças e sempre há necessidade de construção de
novas escolas.
Colocamos, então, a proposta do mutirão e a necessidade de termos os dados da Secretaria de
Educação colocados também num computador, no caso seria o mesmo, para podermos
fazer esse cruzamento
dos dados e podermos averiguar se realmente as crianças não são coincidentes. A
Secretaria topou,
inclusive foi acertado
com a Procempa a possibilidade de trabalharmos juntos; iniciamos o trabalho, levamos então os nosso dados à Procempa, os dados
do Estado e todos os dados já do Município das crianças matriculadas,
freqüentando as nossas Escolas já estão lá, e nós teríamos uma mínima
possibilidade de fazer esse cruzamento, mas a bem da verdade o cruzamento foi
feito parcialmente, foi feita a amostragem, porque realmente os dados globais da Secretaria de Educação ainda
não foram possíveis de serem colocados no computador porque são mais de 160 mil nomes.
Então fizemos realmente por amostragem isso. Mas nesse mutirão nós tivemos 4.800 crianças inscritas sem
escolas, cujo nome, endereço, nome dos pais, idade, estão aqui nesses
documentos. Por outro lado, nós fizemos em regime de amostragem a checagem, o
cruzamento desses dados com os dados da SEC e com os dados da Prefeitura, da SMED, encontramos
por exemplo, nos 604 inscritos no mutirão da Vila Restinga, encontramos apenas 66 que
eram nomes duplos com os inscritos nas nossas escolas e na SEC. Então realmente
nós tínhamos aí um vetor, o mutirão trazia nomes de crianças que nem estavam matriculadas
e que nem estavam inscritas como excedentes nem nas nossas escolas, nem nas
escolas do Estado. Segundo vetor, nesses 4800 vimos com o correr dos tempos, com
ajustamento de vagas junto com a SEC que estamos fazendo com que 1800 crianças
dessas aqui poderiam estar sendo colocadas nas escolas. Então ficaram 3000. Mas 3000
nas Vilas Populares de Porto Alegre, isso fazendo uma proporção simples o que
nos dá? Se em 5% há 3000, em 100% há 60 mil. Mas numa sondagem por amostra nós não podemos tratar dados brutos,
justamente uma sondagem por amostra ela une aspectos quantitativos com aspectos
qualitativos, então já na coincidência de nomes havia 10%. E outro vetor que
nós consideramos era do número provável da projeção do censo de 1980 para
agora das crianças que teriam em Porto Alegre de 7 a 14 anos e o dado neste
caso era inferior, por isso nós colocamos uma projeção de 40 mil. Além disso,
vocês sabem que existem nos dados oficiais do Ministério de Educação por volta
de dez milhões de crianças brasileiras entre 7 e 14 anos sem escolas. Então, se nós fizermos uma
distribuição por todo o Brasil, de acordo com a população de Porto Alegre,
realmente essa
previsão de 40 mil não é fora de propósito. Bom, mas é apenas uma projeção. O
importante é a
existência de um número que é grande de crianças sem escolas. O que nós iríamos
fazer com essas
crianças? Por outro lado, essa pesquisa foi acompanhada, ou melhor, essa sondagem foi acompanhada de
uma pesquisa qualitativa, ou seja, de profissionais, antropólogos e sociólogos
que conversaram naquela modalidade típica de pesquisa antropológica, uma
conversa longa e demorada com os pais, perguntado a eles as razões pelas quais eles não tinham
procurado vagas, e nesta conversa o que aparecia? No final da conversa via-se
que não vale a pena colocar na escola porque as crianças de todo o jeito não aprendem. Então nós
percebemos uma correlação entre o insucesso e a excedência, além do que esse estigma da incapacidade de
aprender na escola já é constatado em inúmeras pesquisas brasileiras. O estigma
que está internalizado pelas classes populares de que eles não têm boa cabeça, de que não
têm condições de render na escola, é alguma coisa que é constatada em todo o território nacional e aqui acrescia-se mais,
além de achar que não tem boa cabeça, já não vale a pena
colocar na escola.
Bom, diante desse fato, tínhamos que tomar uma medida. É da
Constituição, um dever constitucional, o Art. 206, que é de garantir igualdade
de condições para o acesso e permanência na escola das crianças que estão a solicitar essa vaga. O que então nos
competia? A consulta popular mais próxima que podia ser feita, e aqui vejo
algumas pessoas que estiveram conosco no mutirão, sabem o quanto foi rica essa
consulta. As pessoas, nas vilas, elas pediam: “nós queremos que vocês também vão nas nossas”.
Isso é muito importante, porque vocês vejam, quem anunciava a presença de alunos sem vaga eram
os vizinhos que se dão conta da gravidade da situação de uma criança permanecer fora da escola. Eles
mesmos inclusive sofrem as conseqüências da marginalização, porque são os próximos aos seus
filhos, inclusive como eles mesmos diziam, perigando má companhia para o meu filho, porque ficava
vadiando o dia inteiro. Diante desse fato, fizemos uma consulta também boca-a-boca para os pais das classes
populares: “se o
senhor tem dois filhos, um deles pode ficar o dia inteiro na escola”, que eram
as nossas escolas de
tempo integral, que temos 10 dessas escolas, este ano funcionando, “se um de seus filhos ficar todo
o dia na escola e o outro não pode ficar nem um pouco, qual é a sua sugestão para a Administração Popular?” As
respostas eram de que não precisavam ser filhos dela ou filhos dele; bastava
que outras crianças não tivessem escola, que eles não achavam justo. Bem, além de ser a voz do povo, é
um dever garantir igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.
Na Chácara da Fumaça,
os pais se reuniram, todas as comunidades próximas à escola, ao CIEM Vitor
Isler, que foi construído
lá e convidaram o Prefeito, a Lires e a mim para tratar o primeiro específico e
grave problema que era o da educação. Havia na escola 400 crianças matriculadas
e outras 400 na própria
escola, que não estão computadas aqui, no mutirão, na própria escola, desejosas de encontrar uma
vaga. E nesse dia eles nos forçaram – eu ainda estava relutante, realmente, de
transformar o turno integral em dois turnos, na esperança de que não fossem tantas as crianças
excedentes, mas esta comunidade nos forçou – eu falei, expliquei que nós íamos estudar o assunto, que
nós íamos ver como é que nós podíamos resolver a situação, quando eu sentei
eles pediram ao Prefeito: “Mas Sr. Prefeito uma definição. Esse CIEM tem o dobro de
alunos já inscritos aqui”. E o que restou ao Prefeito senão me dar de novo a
palavra e dizer à Secretária, toma uma resolução. Foi de uma pressão da própria comunidade. Então
foi o primeiro CIEM que já em janeiro a comunidade nos exigiu que
transformássemos de turno integral em dois turnos, fora as crianças do mutirão daquela região, cujos presidentes
das associações de moradores estimavam em vários milhares o total, sem falar no
mutirão. Depois disso nós fizemos todo um estudo, desejosos de preservar os CIEMs porque não adianta não faltar vagas e as escolas que oferecem
vagas não serem próximas. Nos detivemos em ver região por região onde há CIEMs
o número de excedentes, tanto no mutirão como nas escolas do Estado e nas nossas
próprias escolas. O que constatamos? É que próximo a todos os CIEMs havia um
número alto de excedentes. Então, só nos restava o que nos era possível agora:
aumentar o número de vagas, transformando esse atendimento de turno integral em
dois turnos. O que nós
fizemos, salvaguardados por outros estudos a respeito do rendimento dessas
crianças na escola, há
realmente comprovação, iniludível, de que quatro horas na escola são suficientes, com uma
pedagogia adequada para aprender os conteúdos básicos previstos para cada série
do Primeiro Grau,
porque também não
seria lógico que nós, em nome de colocar mais crianças nas escolas, se fosse impossível aprender em
quatro horas, que
tomássemos essa medida. Mas como isso é claro para nós, para a Ciência da
Educação, realmente
tínhamos o respaldo de que estávamos fazendo justiça em relação a isso. Mas
como já disse, de fato, relutamos, pois desejávamos poder continuar pelo menos
com alguns CIEMs e, agora ainda batalhando para ver o que mais podemos fazer
com aqueles pais, como ontem, lá na Vila Restinga, conversando com as mães aflitas
que contavam em deixar seus filhos nos dois turnos como é que iriam fazer
agora. Estamos
estudando junto com essas mães a solução do problema. Além disso, nós, estudando a problemática do
turno integral, da criança passar todo o dia na escola com a estrutura da escola, o que aconteceu? Nos demos conta de que
a partir dos 7 anos, uma área de liberdade, de criatividade, de agremiação
com outros iguais, sem a presença maciça de um adulto é algo importante do
ponto de vista pedagógico.
Então, começamos a montar junto com as outras Secretarias da Administração Popular
atividades alternativas para o outro turno em que as crianças não estarão na escola, desde hortas
escolares com a SMIC,
que entra com a semente, com o adubo, as ferramentas, ao trabalho de cinema,
com a Cultura; artes cênicas, música, artes plásticas, literatura. A memória cultural vem junto com a
EPATUR, no turismo interno que já é realmente um projeto previsto de trazer as
crianças das classes populares, das periferias a conhecer Porto Alegre, porque
muitas delas sequer conhecem o Rio Guaíba, nunca viram o Guaíba.
Também um trabalho de agremiações, inclusive com a ajuda dos CPMs, onde já há pessoas lá nos ajudando para que as crianças
possam não só fazer o grêmio, mas que possam fazer outros tipos de agremiações
de tipo científico ou cultural, clube de ciências, clube da leitura e etc, que
as crianças possam ter um atendimento para fazer as lições, mas como atividade
alternativa, não uma programação intensiva- quer dizer: das duas às três, alunos da
3ª série tem espaço na escola sob a supervisão de alguém para que possam vir
fazer as lições, aqueles que desejam e que precisam.
Por outro lado, uma outra atividade que não é
originalidade da nossa Administração, que já foi feita muitas vezes, “criança cuida de
criança”, que são as crianças grandes da 6ª, da 7ª e 8ª série irem trabalhar numa creche, que é uma outra
problemática muito grande da Secretaria de Educação e que eu já gostaria de
responder, porque as pessoas perguntam, nos quesitos para essa Convocação, o que vamos fazer com as Casas das Crianças, se
elas serão concluídas? Elas não só serão concluídas como queremos garantir o seu funcionamento,
pensamos que,
realmente, as comunidades, precisam também de uma ajuda, porque tem quatro
casas da Criança e as comunidades não têm condições de mantê-las sozinhas.
Porque, realmente, manter funcionários e a alimentação e todo o material de funcionamento
de uma Casa da Criança é pesado para uma comunidade carente. Eles disseram que
o plano era de fazer pedidos – o plano anterior – fazer pedidos a firmas e que já consultaram não sei quantas dezenas de
firmas e a resposta foi negativa de todas elas, de ajuda voluntária. Esse plano de construir as cem Casa
da Criança, já planejadas, e que nessas Casas da Criança, alunos maiores
possam estar presentes uma hora e meia, uma hora, uma ou duas vezes por semana
para fazer um atendimento personalizado às crianças das creches, porque como eu disse mais
do que só construir,
nós queremos construir uma proposta pedagógica que é uma carência internacional.
Inclusive na Constituição se vê que a finalidade
das creches é dar guarda e assistência às crianças de 0 a 6 anos. Isso é
realmente muito pouco. Se sabe hoje o quanto são importantes esses primeiros seis anos de vida para a formação da
personalidade da criança. É preciso que os educadores responsáveis, que até
hoje se ocuparam com a escolaridade obrigatória se voltem para pensar qual é a pedagogia adequada
para as crianças de 0 a 6 anos. Sendo um dos problemas da creche, já constatados justamente nos países que
instalaram creches há
muito mais tempo, que já têm adultos oriundos das creches: é que ficar oito horas por dia só com crianças
da sua idade, com uma
tia ou duas tias, que são as pessoas que cuidam, é empobrecedor para a vida dessas crianças. Esse
trabalho que estou dizendo que não é originalidade nossa, “criança cuida de
criança”, já foi feito e até aqui em Porto Alegre com muito boa receptividade,
fazendo um bem para as crianças com aquela nítida vocação pedagógica que existe a partir de 6ª
série, etc., e para as crianças das creches.
Então, procuramos fazer atividades alternativas e
instalar nas escolas da periferia, inclusive, e, quando isso puder ser feito.
Vamos fazer um projeto-piloto, agora, mas quando puder será generalizado, inclusive com a
participação das comunidades e de todos os educadores progressistas que quiserem
estar conosco
procurando, então,
atender a essas
crianças de 7 a 14 anos, no outro turno em que elas não estiverem na escola.
Então, bem, essas foram as razões pelas quais, como constam nos quesitos que me vieram, sobre o que se entende por mudar a
filosofia dos CIEMs. E, também, no quesito 5, há uma pergunta sobre a
mão-de-obra especializada ou “o destino que nós daríamos, ou o porquê nós suspendemos o Centro de
Formação de Mão-de-Obra do Gasômetro, que estava previsto, inclusive com alunos
matriculados, alunos inscritos, não eram 650 como vocês perguntaram, mas, posso dar
as respostas aqui.
Esse Centro de Formação de Mão-de-Obra não está funcionando porque a Usina do Gasômetro não tem condições.
E em janeiro a firma
Santos Albernaz nos disse que, para março, de maneira nenhuma teriam condições de deixar a Usina em
condições de abrigar uma escola. Além do que faltavam todos os equipamentos
para ser o Centro de Formação de mão-de-obra. Mas essa grande preocupação de que esse tipo de escola, não só esse tipo de escola restrito para
algumas crianças, mas como o problema trabalho deve entrar em todas as escolas
é objeto de estudo dentro da Secretaria, inclusive numa Comissão Temática de assessores do Conselho
Consultivo dentro da Universidade, como o problema trabalho tem que ser
encarado com a educação, não só em alguns centros de formação de mão-de-obra, como em todas as
escolas. No momento que tivermos possibilidade, esse centro de mão-de-obra será constituído.
A outra questão, no item 8, é que se no programa de
Administração está a se
inserir a alimentação. Queria dizer que na alimentação para os dois turnos está
previsto o café pela manhã, a merenda, o almoço para os que estão de manhã e almoço merenda
para os que vierem à tarde. Esse aspecto alimentação fica salvaguardado, já está tudo encaminhado para
que as escolas estejam funcionando agora.
Outro quesito é a respeito de que eu teria
declarado na imprensa não ser a alimentação essencial à formação da criança na
idade pré-escolar. Em primeiro lugar, gostaria de esclarecer que esta afirmação
eu não fiz. Aqui diz assim: “Em divulgação na imprensa, V. Exª declarou não ser a alimentação essencial à
formação.” De qualquer maneira posso abordar com segurança esse assunto porque, na pesquisa
sobre aprendizagem na qual estou engajada há mais de dez anos, realmente, a primeira
preocupação era saber qual é a responsabilidade da alimentação para a
aprendizagem.
Então, gostaria que se reportassem a estudos de pesquisadores,
médicos,
neurologistas, neuro-pediatras, entre elas, Maria Aparecida Moisés e Gerson
Zatta de Lima, entre outros – ponho à disposição a bibliografia, até xerox, se
quiserem, de trabalhos publicados por eles, onde eles constaram, após dez anos de
pesquisas em São Paulo e no Rio Grande do Norte, que, infelizmente, as crianças
que tiveram desnutrição severa nos dois primeiros anos de vida, que poderiam
ter células nervosas
destruídas que
comprometeriam a aprendizagem dessas crianças, essas crianças morreram antes
dos 7 anos de idade. Eu sei que para nós é uma grande novidade, porque a constatação é de que desnutrição era severa, depois foi tirado o
severa, então ficava
qualquer desnutrição. Então, eu mesma sou desnutrida, porque eu não como o “breakfast” de americanos e que isso
seria o direito de comer quando pequeno? Não. A desnutrição severa que poderia causar lesões
no sistema nervoso, foram divulgadas a nível internacional, posso dar
referências de onde saiu, de pesquisas feitas no Biafra durante a Guerra e com
ratos de laboratório.
E as crianças do Biafra, que tinham aquela magreza que víamos nas fotografias,
na televisão, não tinham sido crianças desnutridas quando pequeninas, elas
tinham a fome atual
gravíssima. Essas crianças, com essa fome, tinham uma deficiência na
aprendizagem. E daí se conclui que a fome - e os ratos em laboratório corriam menos com fome – e daí se fez uma inferência de que criança que
não comesse tanto quanto comem os americanos teriam uma deficiência de
capacidade de aprendizagem. Isso realmente é ideológico, já foi amplamente denunciado. Quer
dizer, a nossa cabeça de brasileiros não perde nada para os outros. A nossa
alimentação pode ter sido diferente da deles, mas nós não tivemos a desnutrição
severa, e se nós
tivéssemos tido essa desnutrição, teriam diminuído em nós as resistências, as
defesas orgânicas, qualquer gripe se transformaria em pneumonia.
Esses dados os senhores poderão encontrar nessa documentação que posso dar a
todos. Agora, infelizmente existe desnutrição no Brasil, porque o número de mortalidade infantil é
alarmante. Ninguém está dizendo com isso que a alimentação não seja necessária,
que não é necessário que as criança comam muito nos dois primeiros anos de
vida. Por outro lado, ninguém está dizendo que com fome atual alguém pode
aprender. Ninguém pode dizer isso. Com fome ninguém aprende, como não faz qualquer
outra coisa. Como eu sempre digo, qualquer outro mal-estar fisiológico nos impede de
concentração. Então, efetivamente, as crianças precisam estar alimentadas, mas
estando alimentadas no período de aula, elas realmente têm condições mínimas
para se desempenharem
que nem as crianças de classe média e alta.
O penúltimo é com relação ao Ginásio de Esportes.
Se ele é uma necessidade para a formação dos jovens e qual a previsão para a
sua inauguração. Eu gostaria de poder dizer isso a vocês, porque realmente falta pouco. A firma a
qual foi pago adiantado não está cumprindo nem a tarefa pela qual já foi paga,
mas de qualquer maneira ainda há uma décima quarta etapa na construção do
Ginásio e já iniciamos o pagamento semana por semana
para as firmas que estavam atrasadas desde setembro, nas 49 obras da Secretaria
de Educação, e pretendemos, no menor tempo possível, completarmos o Ginásio, porque
ele é de grande utilidade, embora se estivesse na nossa
possibilidade decidir
isso teríamos
priorizado escolas na periferia, ruas na periferia, esgotos na periferia. Ainda
domingo conversei com a Teresinha Irigaray e ela me disse, o sonho foi meu, o
nome fui eu que escolhi. Quer dizer, foi uma coisa acalentada, desde o
início, da Administração Collares e que nós não vamos tolher. Os Vereadores
devem estar esclarecidos de que a obra não foi entregue à Secretaria e, portanto, o
controle, manutenção, vigilância é dá competência da firma e nós exigiremos que a
firma entregue as cláusulas do convênio conosco. Agora, o mais cedo que pudermos, concluiremos, porque uma vez
que está neste ponto
evidentemente que há
muita utilidade no Ginásio.
Perguntam também qual o número de excedentes na
idade pré-escolar existente em Porto Alegre e quais as soluções encaminhadas para enfrentar esse problema. Esse dado, realmente, nós
pretendemos, ainda, se possível, levantar, porque eu gostaria de dizer a vocês
que o dado concreto
de excedentes é do nosso interesse. Nós vamos continuar o mutirão para, o mais
cedo possível, nós termos isso preto no branco, tanto de zero a seis anos como
de sete a quatorze
anos para, justamente, podermos encaminhar a contento da população a construção
das 100 casas das criança, das quais quarenta já têm lugar determinado, mas
as outras ainda não está definido onde serão construídas. Então, com isso, a
consulta ao número de
crianças na pré-escola vai ser um dado importante. Muito obrigado.
(Não revisto
pela oradora.)
O SR.
PRESIDENTE: Nós passamos a
palavra ao Ver. Isaac Ainhorn.
O SR. ISAAC
AINHORN: Sr. Presidente
e Srs. Vereadores, antes de mais nada eu saúdo a presença ilustre da Srª Secretária de Educação nesta
Casa, Profª Esther Grossi, que revela, não obstante algumas divergências que possamos ter,
um conhecimento profundo e experiência na área educacional que faz com que tenhamos por ela uma
admiração e um respeito pelo seu trabalho. Agora, entendemos, realmente, e
compreendemos que a Frente Popular, há sessenta dias, assumiu e imediatamente faz frente
a um dos problemas mais sérios do nosso país que é a questão educacional.
Evidentemente, que nós, trabalhistas, temos, em relação à educação todo um projeto, tanto é que as nossas presenças na ação governamental
sempre revelaram que uma das prioridades em relação ao nosso Governo é a
criança e a educação.
Faz parte do nosso programa partidário, dos nossos compromissos, e tem sido a
ação prioritária dos
governos trabalhistas do passado e do presente. A obra e a experiência do
Governador Brizola, quando Governador do Estado do Rio Grande do Sul é inegável, podemos até dizer
que dentro de um empirismo de elementos que se tinha à época, ele se pôs a
campo, no final da década de 50, início da década de 60, construindo milhares
de escolas que são
hoje uma herança lembrada em termos daquilo que se poderia dizer uma verdadeira
revolução educacional na época. Preocupado com o número de crianças que se encontravam fora da
escola, e colocando, através daqueles modestos chalés, simples construções de
madeira, e hoje quando se percorre o interior do Rio Grande do Sul, ainda se
encontra alguma coisa presente dessas obras do Governador Brizola. E,
posteriormente, aqui mais recentemente na década de 80, no Governo do Rio de Janeiro, no
Governo Leonel Brizola, passou-se a buscar uma alternativa para aquele Estado, em termos educacionais, que
foram os CIEPs, e que causaram uma profunda revolução na área educacional do Rio
de Janeiro, com repercussão nacional e sabe a Secretária que também teve
repercussão internacional. Procuramos, através desse tipo de escola de tempo
integral, buscar uma solução educacional e também, além do aspecto
educacional, dar a um
País que tem uma realidade
concreta de miséria e que essas crianças de rua vão se transformar, infelizmente, em delinqüentes e
pivetes do futuro, uma nova alternativa, trazendo essas crianças para dentro de
uma escola. Quero dizer que muitas vezes agimos até sem grandes pesquisas de aprofundamento pedagógico,
assim como também quando eu participei dos projetos, quando jovem, das
experiências educacionais do Educador Paulo Freire, também se fazia muita coisa na base da
experiência e da busca de soluções no concreto. Eu quero dizer que, embora
compreenda a busca de alternativas, acho que, neste momento, as escolas que foram dimensionadas
e direcionadas para funcionarem como escolas de tempo integral têm todo o seu projeto
educacional que estava sendo priorizado relegado a um segundo plano. Quando eu,
o Ver. Zanella e o Ver. Clóvis Brum fizemos o Requerimento que teve a acolhida
unânime desta Casa,
no sentido de que V. Exª. aqui comparecesse, foi exatamente com a
preocupação de debater e ver aclaradas essas questões. Eu respeito esse censo e a pesquisa levada a
efeito do número de excedentes de crianças em idade escolar que estão fora da escola. É um dado
relevante, mas entendo que, na ação educacional, vale dizer que temos que
buscar alternativas concretas daquelas crianças que estão fora da escola e que
precisam de qualquer maneira, dentro de nossa Cidade, ter o problema dos
excedentes resolvido. Eu me recordo que, quando o Prefeito Alceu Collares
assumiu o Governo de
Porto Alegre também enfrentava esse problema, em primeiro lugar porque não havia uma
tradição de ensino de primeiro grau no âmbito do Município de Porto Alegre. Essa competência era basicamente do
Estado. O Prefeito Collares, à época, chamou a si a responsabilidade em torno
da questão do ensino, porque entendia exatamente que esse era um dos pontos prioritários
do projeto e do programa do PDT no Governo Municipal. Então, hoje, o que nos
preocupa é que soluções foram aventadas, levantamentos foram feitos, mas
existem crianças fora das salas de aula e não estão existindo soluções a não ser num regime
improvisado de barracões e outras alternativas, até um pedido de uso de áreas de igreja, de
entidades comunitárias, de áreas até das forças armadas, no sentido de buscar a
viabilização dessas
crianças que não conseguem estar na sala de aula. Eu entendo que a desfiguração
dos CIEMs, de um
lado, não vai resolver o problema e toda essa experiência educacional, nova, revolucionária, professora, eu entendo que
nós estamos levando ela para o seu final.
Gostaria de referir aqui a questão das duas escolas
profissionalizantes em relação, especificamente, à escola João Caruso, que funcionaria aqui na Usina
do Gasômetro e a
outra, a escola
profissionalizante lá do Parque Humaitá, a Escola Antônio Giudice. Não vou
dizer que aquela escola esteve concluída ao final da Administração Collares, mas nesses 60 dias, esta, como outras
obras, infelizmente, foram suspensas, paralisadas. Os empreiteiros já estão
chegando aqui na Câmara
para reclamar que não estão recebendo recursos, alguns estão inclusive em
situação pré-falimentar porque o Município não está cumprindo com os seus compromissos em relação a
eles. Não quero
entrar no caso específico de uma discussão que existe entre o Executivo
Municipal e a empreiteira responsável pelo Ginásio de Esportes, que é uma situação específica, mas a Escola Dolares Alcaraz, da Restinga, tem
apenas um guarda, lá, uma escola que poderia chegar
em março, abril, em
funcionamento. Nós temos a experiência nesta Casa em que nós fizemos a
recuperação de uma tapera, porque esse prédio foi concebido há época das obras grandiosas
e, depois, não teve
os recursos necessários para que se continuasse. Nós, na Legislatura passada, com o apoio do Prefeito
Collares, colocamos este prédio em funcionamento em condições precárias e ele
ainda funciona em condições precárias, mas conseguimos fazer dele um prédio onde a Câmara de Vereadores
pode funcionar condignamente, e se não tivéssemos há três anos feito isso, Secretária, não tivéssemos tomado este prédio
na forma como foi tomado, vindo os Vereadores, a Mesa, e o Prefeito aqui para
dentro com o apoio até da livre iniciativa que fez o investimento imediato aqui, porque as obras estavam
completamente paralisadas, este prédio estaria relegado a se transformar uma tapera e
o destino final dele era ser demolido, porque as suas estruturas, hoje, estariam
totalmente comprometidas. Então eu sei e tenho conhecimento de que a Usina do Gasômetro não está
concluída, a Escola Profissionalizante
Antonio Giudice do Parque Humaitá, que eu citei a V. Exª, não se encontra concluída. E o
mais grave de tudo Secretária é que essas obras estão totalmente paralisadas e o Município
pode se colocar, ficar numa situação de mora perante os empreiteiros, os
empreiteiros alegam justa causa para a paralisação das obras, na medida que não estão recebendo os
recursos mensais de acordo com as medições do andamento das obras, isso aconteceu em janeiro e fevereiro. Então o
que ocorre é que essas
obras realizadas,
projetadas pela Administração anterior, hoje, estão nessa situação. Ainda quero, para concluir Sr. Presidente,
só dizer, e até indagar da Secretária por que ela em relação às Casas das Crianças respondeu que há intenção do
Executivo Municipal de concluir as que estão em andamento e aquelas que não se iniciaram, dar continuidade. Eu pergunto com
que elementos, com que recursos, porque a resposta foi positiva. As Casas das Crianças serão concluídas, mas a Secretária com todo o respeito não
respondeu a previsão do Executivo em relação ao término das obras. Estão são
fundamentalmente as questões que gostaríamos de colocar e, por último ainda, V. Exª falou de um Projeto que eu tive
a honra de ser o autor, que é o Projeto de Visita Cultural à Cidade, consagrado através de um convênio que foi
celebrado entre a Companhia Carris e a Secretária Municipal de Educação, o que
viabilizou exatamente na Administração Collares que as crianças das escolas públicas
municipais pudessem conhecer os sítios e as áreas de todo o acervo do patrimônio histórico e cultural da
nossa Cidade e que isso não fosse apenas privilégio das crianças do colégio
João XXIII, do Anchieta e Israelista, colégios desse padrão, mas também as crianças da nossa rede
municipal das escolas públicas tivessem esse privilégio. Faço votos de que V. Exª. possa dar continuidade a esse projeto. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. ESTHER
GROSSI: Em primeiro lugar, parabenizo V.
Exª pela idéia e digo o seguinte: realmente, nós
estamos interessados em realizar bons projetos, venham eles de onde vierem, mas
me penitencio, porque não
sabia que era de sua autoria, mas o importante é que realmente nós possamos
trabalhar juntos nessa
linha.
Com relação ao item dos pagamentos dos contratos, da
conclusão das obras, gostaria de explicar e espero que já seja do conhecimento
de todos, mas não custa repetir, de que nós encontramos no dia 2 de janeiro, quando
assumimos, uma
situação de construção de 49 obras na Secretaria de Educação com exceção da HD, que estava adiantada com o
pagamento, todas as outras empreiteiras que trabalham conosco, atrasadas, a
maioria delas desde o mês de setembro. Então, as firmas realmente foram
desacelerando o trabalho nas obras em função do atraso que elas tiveram, e diga-se de
passagem, todos eles têm batido a nossa porta, diariamente, e têm nos afirmado
que a promessa era de que no dia 28 de dezembro eles receberiam o pagamento, só que no dia 28 de dezembro
houve o privilégio para algumas firmas, inclusive assim de adiantamento de
pagamento e as outras permanecem realmente atrasadas. Então, o que para nós restava?
Primeiro lugar: a grande tarefa da Secretaria da Fazenda de conseguir entender
a situação financeira do Município, cujos dados até a entrada na própria Secretaria e
depois de estar lá
dentro foram dificilmente arrancados. E desde lá nós estamos estudando cuidadosamente
como num menor prazo
de tempo possível ressarcir as empreiteiras dos atrasados e começar a entrar nas etapas que
realmente precisam ser concluídas. Posso garantir aos senhores que elas já estão
recebendo semanalmente, fizemos um cronograma, uma planilha de acordo com as
prioridades e demos prioridades às escolas nas periferias em que, realmente, já estava em
andamento o mutirão e já sabíamos desses excedentes, e aquelas que eram viáveis, porque o
Centro de Formação de Mão de Obra precisaria de uma dotação para o equipamento
da escola que requereria uma verba que estaria fora da cogitação. Agora, este cronograma está
sendo cumprido e nosso desejo é que nós aceleremos o mais rapidamente possível
esses pagamentos, na medida em que haja essas entradas e inclusive, se nos for possível, conseguir até
financiamentos.
O SR. ISAAC
AINHORN: Elas estão
paralisadas ou não?
A SRA. ESTHER
GROSSI: Não. Não estão paralisadas, sobretudo porque nós
encontramos – eu não
sei falar em V. Exas,
que vocês têm essa
prática, acho que não tem problema – bem, é que nós também sabemos fazer
trabalho em mutirão e construir rapidamente, só que nós encontramos contratos firmados que seria
muito complicado rescindir esses contratos com essas empreiteiras. Então, agora, nós pensamos que
temos que realmente que continuar o trabalho como vinha sendo feito, mas
depois vamos partir para outra. Uma delas é a solicitação das Associações Comunitárias com
relação, por exemplo, às Casas da Criança, de que eles têm mão-de-obra
especializada, e as obras das Casas da Criança eles poderiam garantir a mão-de-obra e com isso,
inclusive, se comprometer muito mais vivamente com a própria Casa, que estaria nas proximidades
deles. Naturalmente que precisa do controle de engenheiro, que precisa de
garantia da eficiência desse trabalho.
O SR. ISAAC
AINHORN: Especificamente
sobre isso solicito um exemplo concreto de duas obras paralisadas: a Casas da
Criança da Restinga e a Escola Dolores Alcaraz Caldas, na Restinga, que estão atrasadas e que há 60 dias o
empreiteiro não recebe nenhum cruzado dos cofres do Município. Tanto é que eles
estão batendo nas portas desta Casa.
A SR. ESTHER
GROSSI: Batem nas portas quando já
receberam adiantado também, e como batem.
O SR. ISAAC
AINHORN: Não, esse não
esteve aqui; o do Ginásio não esteve Secretária.
A SRA. ESTHER
GROSSI: Mas na imprensa eles estão
continuamente. Bem, vou tirar essas informações. Dentro dessa planilha, vou ver
o que é que está
acontecendo com a
Dolores Alcaraz e acionar o serviço de prédios para saber se as firmas
realmente estão tocando
as obras para a
frente. Amanhã mesmo vai ser providenciado.
O SR.
PRESIDENTE: Solicito ao
Ver. Isaac Ainhorn que assuma a Presidência dos trabalhos.
O SR.
PRESIDENTE (Isaac Ainhorn): Com a palavra, o Ver. Valdir Fraga.
O SR. VALDIR
FRAGA: Profª Esther, no Regimento
Escolar do CIEM, no art. 80, diz que o CIEM adota o regime seriado anual, que o
CIEM funciona em horário integral. Qualquer alteração anual tem que ser ouvido
o Conselho Administrativo Pedagógico. Eu pergunto se ouviu o referido Conselho
para fazer essa alteração que está pretendendo, se não vai usar o regime
integral. A segunda pergunta é sobre a capacidade do CIEM Vitor Issler. Em
tempo integral, a capacidade é para quantos alunos?
A SRA. ESTHER
GROSSI: A capacidade é de 400 alunos
para os dois turnos juntos.
O SR. VALDIR
FRAGA: Eu posso-lhe colocar que
participei com o Prefeito Collares, nos primeiros dias, logo que assumimos, tínhamos 7 mil alunos excedentes
e usamos quartéis, igrejas, tinha inclusive um patrão de um CTG da Restinga que
está presente, e por pouco não ocupamos os apartamentos que ainda não tinham sido liberados pelo
Diretor do DEMHAB
Dilamar Machado. Eu, realmente, me preocupo com esses 40 mil alunos excedentes.
Acho, até, que esses alunos não estão querendo participar das escolas
estaduais. Eu acredito que, pela beleza dos CIEMs, eles estão-se inscrevendo somente nas nossas escolas
municipais, que são melhores do que muitas escolas particulares de nossa Cidade. Isso é apenas uma colocação, mas a resposta que eu
preciso é referente ao Regime Escolar do CIEM, Artigo 80. Se para ser alterado
anualmente, não tem que ser ouvido o Conselho Administrativo Pedagógico?
A SRA. ESTHER
GROSSI: Em primeiro lugar, nós estávamos
num período de férias e consultamos o CEE, recebendo a informação de que se há
uma instância mais alta, ou seja, a obrigatoriedade de o poder público colocar; ter maior número
de salas para as crianças na escola. Realmente, se as crianças não forem colocadas em salas de
aulas, nós poderíamos ser processados pelos pais, se não dermos escolas. Então,
realmente, era possível fazer essa alteração com um consulta “a posteriori”.
O SR.
PRESIDENTE: Mesmo que seja
tomada essa posição, eu aconselharia a V. Sª que ouvisse, pelo menos para dar uma satisfação, esse Conselho, se é que
ainda não foi dada.
A SRA. ESTHER
GROSSI: O importante é que nós ouvimos
diretor por diretor, a direção da escola, que, no caso, em período de férias, estava representando a
entidade. É uma direção eleita pela comunidade. Nessa instância, diante da
conjuntura, a circunstância especial, nós nos assessoramos juridicamente da
melhor forma possível.
O SR.
PRESIDENTE: O Conselho
Administrativo Pedagógico ele foi constituído ou não?
A SRA. ESTHER
GROSSI: Em muitas escolas foi constituído, há escolas em
que ele funcionou, não em todas. Eu diria aos senhores o seguinte: os CIEMs novos, eles só têm diretores indicados. Esse
conselho, realmente, não foi constituído ainda, porque não há nem corpo de
professores; hoje estão
indo os professores para as escolas a partir da nossa contratação.
O SR. VALDIR
FRAGA: Eu estou querendo colaborar.
Solicito à Secretária que, se possível, juntamente com a sua assessoria,
providencie, para não haver nenhuma surpresa no decorrer dessas alterações e, se possível, depois
nos encaminhe, o nome dos conselhos que autorizaram.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Artur Zanella.
O SR. ARTUR
ZANELLA: Sr.
Presidente, eu gostaria de fazer uma pergunta e, se possível, receber a
resposta na mesma hora para depois não haver uma junção de respostas.
Em primeiro lugar, quero agradecer a presença da Srª Secretária, novamente, e dizer que esses quesitos
foram mais ou menos feitos em conjunto com diversos Vereadores; o número 2,
quando fala da alimentação essencial à formação das crianças em idade pré-escolar, não fui que fiz, mas concordo com a pergunta,
porque, efetivamente, na imprensa havia aparecido essa informação de que a Srª teria declarado que não era importante a alimentação
nessa idade, porque não era essencial ao aprendizado e que as crianças
mal-alimentadas poderiam aprender perfeitamente. Inclusive a senhora foi até defendida aqui na
Casa por alguns colegas
nossos. Defendida, e as pessoas concordando com essa afirmação. Então, fico satisfeito em
ouvir a senhora dizer
que não é bem assim a história e que, efetivamente, a alimentação é importante.
Isto me leva ao item 4, que fala da ocupação de
dois turnos do CIEM.
Eu costumo dizer que os assuntos da Restinga, até me engajo com o Ver. Luiz Machado agora, que é Presidente da Associação dos
moradores, são como
um grande tacho em que todo mundo mexe e, de vez em quando, há uma raspinha
para cada um. Mas, efetivamente lá é uma situação diferente de outras vilas: o ônibus demora aproximadamente uma hora e quinze,
uma hora e vinte, dependendo do horário. Então, as pessoas, as mães, os pais que trabalham no Centro da Cidade efetivamente não
tem como deixar as crianças somente um turno porque, no outro turno, eles não
têm com quem ficar; e
a pessoa, terminando o seu serviço às 6 horas, às 6 e meia, por aí, vai chegar
às sete horas. Então há um problema muito grande.
Então pergunto a V. Sª claramente: no caso da Restinga, com turnos
diferenciados, como é que vai se resolver o problema dessas crianças que já tinham os dois
turnos e que, agora, efetivamente, ficaram numa situação que não terão para onde ir ou
de manhã ou de tarde? Tem alguma coisa especial para lá ou não?
A SRA. ESTHER
GROSSI: Em primeiro lugar, ontem mesmo,
a partir da reunião lá com os pais das crianças do CIEM, já tínhamos inclusive
autorizado. E lá, disse em público à diretora que analisasse esses casos, que não são muitos que têm problema
insolúvel nessa
situação, porque, vocês sabem? Não sabem que as pré-escolas são de um turno só
e não há nenhum protesto? Todos os pais acomodam essa situação que em que os filhos ficam
meio turno na escola. Os pais, justamente, de crianças em idade menor do que as
crianças do 1º grau. Então, a nossa grande preocupação é que aqueles que estavam
contando com isso,
como é que nós podemos ajudá-los nesse sentido. Então estamos montando
atividades alternativas, muito especialmente lá na Restinga, onde nós temos o
Centro Comunitário, o
CECORE, onde lá está o diretor do Centro Comunitário, não sei se o nome é esse,
comandado pela FESC. A FESC também está trabalhando conosco para a constituição
destas atividades alternativas. Vamos analisar caso por caso. Ontem mesmo, na
reunião, se via muito
claramente que o número de pais que realmente necessitam, por exemplo: um pai
que só tem um filho, a partir da 1ª série, teria o problema do seu filho ficar
sozinho. Mas são
casos raros, pois se sabe que nas classes populares o número de filhos é
grande, em geral, e há os maiores que ajudam a cuidar dos menores. Uma senhora
veio-me dizer que,
justamente, o turno integral complica a vida dela porque ela tem crianças bem
pequenas e conta com os filhos grandes para poderem ficar com os menores.
Então, realmente, no que temos que pensar é que a principal função da
escola é que as crianças possam aprender e os pais desejam isso. E que a esses
problemas de ordem social, oriundos de outras causas, não demos agora uma solução
paliativa, sem esquecer que há casos locais que não vamos deixar de lado, mas
que, globalmente,
atinjamos as metas e os objetivos precípuos da escola, que é dar a essas crianças de classes populares
o saber sistematizado ao longo da história, que é direito de todo o cidadão.
O SR. ARTUR
ZANELLA: Seguindo a
ordem, queria fazer uma consideração que, efetivamente, ao menos naquela comunidade, ficasse mais fácil o
atendimento do pré-escolar. O grande problema lá são aqueles meninos de dez ou
doze anos, eventualmente, caírem na marginalidade, ficando lá passeando sozinhos
pela vila.
A SRA. ESTHER GROSSI: Gostaria que pensassem muito. Nós estamos com
estudos bem sérios sobre os meninos de rua. Todos eles, em trabalhos feitos em
Porto Alegre, São Paulo, Rio e Bahia, todos eles estiveram na escola, não foram aprovados, tiveram
experiência negativa de estar na escola. E todos eles dizem que agüentar a
estrutura diretiva da escola era, para eles, o que havia de mais pesado.
Então, a idéia de que deixar o menino de doze anos,
o dia inteiro, vai ser a forma de evitar a marginalização, muito provavelmente é
um engano nosso. Porque o
que ele precisa é de ter, realmente, um período onde ele aprenda, onde ele se
instrumentalize para
a vida e que ele, depois, possa ter o seu espaço de liberdade para que tome as
suas iniciativas e que, inclusive, comece a ganhar dinheiro, porque as famílias têm poucos recursos, e se
ele ficar o dia inteiro na escola ele não tem essa possibilidade.
Quero deixar claro que esse estudo merece um
aprofundamento muito sério e global, que nós não limitemos os problemas a aspectos pontuais.
O SR. ARTUR
ZANELLA: Para quem
conhece a Restinga, que é uma comunidade de quase cem mil pessoas, é um pouco
difícil até os pais ganharem a vida, quem dirá os filhos! Porque está fora, inclusive do mercado
de trabalho.
Professora, a respeito do Ginásio dos Esportes, inclusive eu
fiz um Pedido de Informações, porque havia uma preocupação muito grande, em
vista de entrevistas. Eu li uma entrevista do Sr. Prefeito Municipal, dia 05
de janeiro de 1989, Jornal
do Brasil, em que ele dizia que não ia continuar com os devaneios do ex-Prefeito Collares. E citava nominalmente como
devaneio o Ginásio de Esportes. Depois, eu vi uma entrevista do Professor Weber, dizendo que o
Ginásio de Esportes era um elefante branco. Então, eu fico mais tranqüilo em
ver que S. Exª está
diferente na manifestação com relação a esse Ginásio. Gostaria de ter uma idéia, dentro desse
cronograma, de quando esse ginásio ficará pronto mais ou menos.
A SRA. ESTHER
GROSSI: Mesmo que ele não fique inteiramente pronto,
mas se ficarem prontos no mês de março a cobertura e o parquê, para que possa
ser utilizado, mesmo que sem todas as etapas terminais, nós temos o maior
interesse nisso. Mas
eu não posso dizer hoje, porque esse levantamento da possibilidade do pagamento
está sendo fruto de estudos na Secretaria da Fazenda.
O SR. ARTUR
ZANELLA: Outra
pergunta, Secretária, é
a seguinte. Houve até um certo debate na Casa sobre o problema dos excedentes,
porque uma hora se falava em 5% das crianças, depois eram 5% nas vilas. E, apesar de alguns
colegas meus não gostarem até que alguns leiam o jornal, isso tem sido muito
tratado na imprensa. Então, como as vilas são de diversos tamanhos, não se pode
comparar uma Vila Restinga com a Vila Triângulo; a Vila Cruzeiros do Sul com a
Vila dos Herdeiros; Nova Gleba com Cachorro Sentado. Gostaria de saber como foi
feito o cálculo dos
5%. Se, 5%, das pessoas ou das vilas.
O SR. ARTUR
ZANELLA: Em 12 de
outubro do ano passado, assinei um ofício ao Sr. Prefeito Municipal da época e arrolava
lá uma série de problemas das escolas da Vila Restinga. Recebi, até com surpresa para mim, a
resposta, no dia 30 de janeiro, do Advogado Jorge Buchabqui, como Secretário do Governo
Municipal, pois eu pensava que ele era Secretário da Administração; depois, eu
descobri que ele é as
duas coisas, dizendo que, em função do Convênio com o Estado, o atendimento das
necessidades evidenciadas por V. Sª não mais estão afetas ao Município e, sim, ao Estado.
Eu perguntaria, neste final, como é que está esse esquema do Convênio, porque antigamente era fácil
definir: o Município
construía a escola, entregava para o Estado, e era responsabilidade do Estado a
sua manutenção e conservação. E, agora, tudo, de acordo com o Ofício que tenho
aqui, passa para o Estado.
E a última pergunta é que eu gostaria de saber, já
que o Ver. Valdir aventou que um dia, quem sabe, a senhora estaria ocupando aquele
microfone como Vereadora, se a Senhora tivesse que votar, como nós vamos ter
que votar daqui alguns dias, o nome de Moisés Velhinho para o Museu Histórico de Porto Alegre, se a
senhora votaria a favor ou contra.
A SRA. ESTHER
GROSSI: A primeira pergunta, eu diria o
seguinte. Todos os Srs. Vereadores sabem que esse Convênio foi desfeito com o Estado, mas nós precisamos
repensar isso.
Estamos colhendo sugestões. Este Convênio foi desfeito pela Administração
anterior, de que a Prefeitura construía e passava para o Estado e, agora, nós pensamos que devemos ter uma
forma mais clara de até podermos pressionar a Secretaria Estadual para a
construção de escolas e o funcionamento das escolas.
Quanto à segunda pergunta, eu votaria no nome de
Moisés Velhinho.
O SR.
PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Wilton Araújo.
O SR. WILTON
ARAÚJO: Saudando a presença sempre boa
da Administração nesta Casa, eu acho que é através desta inter-relação que nós
vamos poder co-administrar a Cidade. Eu gostaria de fazer algumas perguntas.
Quantos CIEMs serão transformados em 2 ou 3 turnos? Qual será a
capacidade aumentada de alunos no total de todos os CIEMs? Parece que há uma
certa divergência, não sei se dos dados de que eu disponho, com os dados que a Srª Secretária tem, me chamou atenção o CIEM da
Chácara da Fumaça. A Srª Secretária falou em 400. Parece-me que o Ver.
Dilamar, ex-Diretor
do DEMHAB, tem umas informações e eu tenho outras informações...
O SR. DILAMAR
MACHADO: Com relação ao
CIEM Victor-Issler, à época em que foi
implantado, eu dirigia o Departamento Municipal de Habitação, eu iniciei a implantação do conjunto
residencial da Chácara da Fumaça. Pelo que me consta, a não ser um ledo engano, além das
14 salas de aula do CIEM Victor Issler, seus 3.425,98m2 de área construída, a capacidade do CIEM é para
980 alunos em tempo integral. Na ocasião, foi feito um levantamento minucioso
pelo DEMHAB, pelo seu Serviço Social, da população escolar, ou em idade escolar
da Chácara da Fumaça,
e o CIEM, efetivamente, abrigaria todas as crianças. Aliás, a informação que V.
Exª traz de dois
turnos para 800 crianças fecha. Aproveito a oportunidade do Ver. Wilton Araújo para formular novamente a mesma questão à senhora: a capacidade
que há é para 400 ou
os 980 que estavam previstos na construção do CIEM Victor Issler. Porque toda a
filosofia colocada pela Secretária de Educação para a alteração dos dois turnos
está centrada, pelo que entendi até agora, no problema da Chácara da Fumaça.
O SR. ARTUR
ZANELLA (Questão de Ordem): Foram
encaminhados alguns quesitos para a Secretária, e há uma dúvida se esses quesitos foram respondidos por escrito ou não. Eu gostaria de saber se
houve alguma resposta por escrito. Essas respostas foram distribuídas para
alguém ou não?
O SR.
PRESIDENTE: A Mesa
esclarece a V. Exª,
em primeiro lugar, que, na forma regimental, a Convocação da Srª Secretária foi acompanhada de quesitos, para que ela, em dia e hora a
serem previamente acertados, viesse aqui e respondesse, a seu critério, por escrito e oralmente.
Agora, informo a V. Exª
que, tendo em vista as notas taquigráficas da presente Sessão, ficam registradas, não
só as perguntas, como as respostas, aos quesitos formulados, pela Srª Secretária, bem como as
intervenções e perguntas formuladas subseqüentemente pelos Vereadores e as
respostas dadas pela Srª Secretária.
O SR. ARTUR
ZANELLA: Não tem por
escrito então?
O SR. PRESIDENTE: Há, neste momento, as notas taquigráficas, que são
o registro escrito.
O SR. WILTON ARAÚJO: Só para relembrar, a nossa questão principal seria
se os CIEMs serão transformados, dois ou três turnos, não sei, e o que isso significaria em número de
alunos, tendo em vista que a informação que temos agora, mais ajustada, diremos assim,
de 40 mil excedentes, é uma projeção em cima de uma pesquisa deita em 5% das
vilas e não dos vileiros. Eu gostaria de externar a minha opinião quanto à
desconformidade com a atitude tomada pela Secretária, justamente quando não ouviu os Conselhos das
escolas, não ouviu as comunidades, tendo ouvido as direções das escolas que,
como afirmado pela Srª
Secretária, são representantes e se sabe que foram eleitos. Mas acho que, para
extensão de tomada de decisão,
teria que ser ouvida a comunidade, e eu não vejo aí uma Administração Popular, Frente Popular, tudo popular, se não fala com
a população.
Então, eu manifesto a minha desconformidade. Em
segundo lugar, eu gostaria de ficar mais tranqüilo, também, e tentar quem sabe, não vejo agora
o Vereador do PT que
defendeu com muita garra na tribuna a afirmativa saída nos jornais de que a fome não traria uma impossibilidade de aprendizado. Vejo com mais
tranqüilidade que a Administração Popular tem como certa, tem como verdadeira
esta afirmativa científica. Então me parece bastante tranqüilizante para nós, Vereadores,
que estamos aqui, ainda mais nós, Vereadores, que somos do PDT e que baseamos roda uma
filosofia, um trabalho, em cima dessa assertiva, ou seja, precisa ter comida para que
as crianças possam aprender. E eu indagaria, por último, estranharia, antes disso, que não só na
Restinga, como nas outras vilas, a senhora afirma que as crianças precisam ganhar dinheiro, o
que é uma dificuldade muito grande neste País, onde o mercado de trabalho é muito agressivo e a gente
sabe, inclusive, das dificuldades que as pessoas um pouco mais idosas têm
quando passam um pouquinho da idade neste mercado de trabalho; ou as próprias
mulheres, que são discriminadas por esse mercado de trabalho, então, como vai ganhar dinheiro essa criança que está realmente
marginalizada? No meu
entendimento, se
ficar mais marginalizada, na medida em que, ao invés de aumentarmos os CIEMs nós estamos
destruindo os CIEMs e impossibilitando que os pais, esses sim, que estão nesta faixa de ganhar
dinheiro, habilitados, vão ficar, no mínimo, muito preocupados com os filhos
que estão-se marginalizando. Eu acho que, em síntese, seria isso que eu gostaria de perguntar à Srª Secretária.
A SRA. ESTHER
GROSSI: É importante nós sabermos que a
maior fonte de marginalização é a não-aprendizagem na escola, que determina a evasão em
termos definitivos. O menino que não tem nada que o grude na escola, porque ele realmente repete,
passa um ano, passa três, faz as mesmas tarefas, copia as mesmas lições do
quadro, esse menino não permanece na escola, esse menino se evade e esse menino é um candidato à marginalização. E essa garantia de aprendizagem realmente é que precisa
ser dada na escola. Eu gostaria que vocês tomassem conhecimento de um dado
levantado na semana passada e que só foi levantado na semana passada, trazido
pelos diretores das escolas da Prefeitura diretamente à PROCEMPA, no serviço de informatização em que nós
temos globalmente os seguintes dados: nós tivemos em toda a rede, considerando as escolas
de 2º grau, etc, a porcentagem de 70% de aproveitamento, ou seja, da aprovação
de uma série para a outra. Na 1ª série, que é o grande estrangulamento da aprendizagem,
nós tivemos 63%, globalmente. Estão aqui os dados fornecidos pelas diretoras à
PROCEMPA e da mesma diretamente para mim. Nestes dados da 1ª série, nós temos uma escola com
41%, escola esta de dois turnos. Depois temos quatro escolas, a partir do menor índice para o maior que são CIEMs. O CIEM Lidovino
teve 49% de aprovação. Os CIEMs Pessoa de Brum e Martim Aranha tiveram 50%, o
CIEM Larri teve 57%. Só
o CIEM João Goulart teve 70% de aprovação na 1ª Série, acrescido de que aqui há
alguma professora que inclusive nos outros também, que trabalharam já com uma proposta que leva em
conta o processo dos alunos à luz das descobertas de Emílio Ferreira, que
convido a todos que um dia puderem se interessar por isso, é uma aventura científica das mais interessantes,
porque todos nós um dia fomos alfabetizados. Seria interessante compreender
como é que se dá esse processo. Levantaram esses índices, aqui, pessoas
preparadas, concretamente, nos cursos de especialização de GEMPA onde eu
trabalhava e que trabalhavam também nessas escolas em que elevaram, também, o índice de alfabetização.
Agora vejam, a maioria das escolas da Prefeitura
com dois turnos tive índices
de alfabetização superiores aos dos CIEMs. Gostaria que vocês pensassem muito nisto e refletissem no problema
de o menino que precisa trabalhar. De fato, foi o que, aqui, se colocou. Eu,
realmente, sei que crianças nesse período não devem trabalhar. Só referi que os
meninos de rua têm
necessidade de ganhar a sua vida e que passam a ter essa necessidade tendo-se evadido
das escolas. Bem, segundo ponto, o primeiro é a respeito do número de crianças
nos CIEMs. Também me
custa entender isso. Porque quando eu falo com os
engenheiros que fizeram o planejamento, o número é um de previsão, quando eu
falo com as diretoras, o número é bem mais baixo do que este. Quando a gente vê dados da
Administração anterior, são outros, às vezes, intermediários entre esses, e, às
vezes, superiores. Os CIEMs têm capacidade para 1200, para 1500. Isso prevendo
uma ocupação integral à noite, porque realmente é uma meta nossa, mas só existiram escolas noturnas
no ano passado em quatro escolas da Prefeitura. Então, esse número teórico
realmente complica a gente. Por exemplo, o senhor tem toda a razão. É previsto que o CIEM da Chácara da Fumaça tenha
980 crianças, aí eu
falo com a diretora e ela diz assim: mas não dá para colocar em todas as salas
previstas, porque uma se precisa para um fim, outra para outro fim. Outro
detalhe importantíssimo
da orientação da Administração anterior é que os CIEMs iam começar a atender esse número gradativamente. Porque
esse número,
justamente, seria o total de crianças que estariam em quatorze salas de aula. Eles teriam 14 turmas de manhã, 14
turmas de tarde no ensino formal e no outro turno, foras das salas de aula,
nessas outras salas especializadas para o reforço, para artes plásticas,
bibliotecas, no
Ginásio de Esportes, eles teriam outro atendimento, não precisando da sala de
aula, só que esse plano gradativo ainda ninguém conseguiu executar. E a todos
diretores eu perguntei. A primeira pergunta que eu fiz à Heloísa, do Vitor Issler foi a
seguinte: Eu tenho informações de que o CIEM da Chácara da Fumaça tinha que ter
980 crianças. Ah! Quando nós tivermos aprendido a trabalhar com
turno integral com duas turmas de estudo formal ocupando a sala de aula, então,
o que ia acontecer? Esse
ano é que ela ia
receber a metade. E essa metade ainda se reduziu, mas não posso colocar mais de
400 e me deu as razões que ainda iremos estudar justamente pela pressão – quem hoje assistiu a nosso programa na TVE, viu que
eu disse: “façam pressão para cima de nós”, “nos forcem a encontrar soluções”, porque nós somos Governo para isso mesmo. As
crianças têm que
estar nas escolas em igualdade de condições. Não algumas 8 horas e outras 4 horas. E nos
forcem a isso e, de repente, nós podemos chegar ou a verificar se o plano
inicial era viável, ou se, realmente havia nele alguma fantasia que deva ser
corrigida. A previsão
teórica era de ter esse número que nós estamos conseguindo por agora, era de
conseguir por quando as escolas tivessem passado por essa etapa de preparação. Só que nenhuma escola pode
fazer isso agora e nós então estamos transformando o turno integral em dois turnos, enquanto com isso, duplicando a matrícula dos CIEMs
aí existentes. Por outro lado, o número de CIEMs, gostaria de dizer para vocês que para nós também é um
quebra-cabeça. Há escolas que não foram construídas para CIEMs e que depois
passaram a se denominar CIEMs. Então uma diretora vem e diz, mas a minha escola
não é CIEM, não,
porque ela não tem ginásio de esportes. O critério ficou que nem os das vilas,
um pouco fluído e nós também andamos, de repente, derrapando por aí. Mas o
importante é que de
18 mil crianças na escola, no ano passado, nós agora poderemos colocar 30 mil
crianças dentro, por enquanto. Se nós pudermos aumentar esse número vamos aumentar, e
realmente com o intuito de que aquela igualdade de condições seja assegurada para um
maior número, estudando o mais imediatamente possível como ampliar isso. Não
vamos conseguir colocar os 40 mil.
O SR.
PRESIDENTE: Pela ordem de
inscrição, a Verª Letícia Arruda, Presidente da Comissão de Educação e Cultura
desta Casa.
A SRA. LETÍCIA
ARRUDA: Boa tarde, Profª. Esther. Nós já
tivemos oportunidade de nos falar. Gostaria, em primeiro lugar, que a senhora
relatasse para os Srs. Vereadores a sua experiência no CIEM João Goularte como
alfabetizadora. A senhora contou ontem na Restinga, que fez um trabalho e que teve muito
êxito. Em segundo lugar, como professora especial desta classe, como a senhora
se sentiu dentro do CIEM, já que a senhora diz que é favorável ao CIEM? No início a senhora colocou. Bem,
em terceiro lugar, a senhora teve uma previsão desse auxílio que vai ter do Banco Mundial para
construir escolas simples como a senhora declarou, no dia 17 de dezembro à Rádio Gaúcha: “Vamos
construir escolas simples, com mais eficácia, junto aos núcleos habitacionais.” Aí a senhora não desativaria esses CIEMs?
Outro ponto
que eu gostaria que a senhora me esclarecesse, segundo afirmação de que “a procura
de vagas nas escolas municipais é maior do que nas escolas estaduais”, é se
existe alguma medida para uma ação conjunta com a Secretaria do Estado,
objetivando solucionar o desequilíbrio dessas vagas escolares, repassando os
escolares excedentes do Município para o Estado, porque, segundo o Prof. Ruy
Carlos Ostermann, na Zona Norte da Cidade há um grande número de vagas. Gostaria, ainda,
assim como o Ver. Valdir Fraga e o Ver. Wilton Araújo e acho que todos os Vereadores
do PDT, que fosse ouvido o Conselho Administrativo Pedagógico do CIEM para,
depois, então,
fazermos outra consulta à comunidade, a fim de que tenhamos uma solução outra
do que a eliminação total do turno integral, enfim, uma solução menos drástica na sua totalidade.
Gostaria, ainda, que a senhora esclarecesse CIEM por CIEM, quer dizer, a relação tão diferenciada que existe
entre seus registros e os dos Vereadores Wilton Araújo e Dilamar Machado,
quanto ao tamanho dos CIEMs, às suas proporções, ao seu espaço físico. Se a senhora não pudesse responder hoje, gostaria de obter a resposta amanhã, ou
quando lhe for mais conveniente.
Outro ponto a
esclarecer, é que quando
durante a campanha da Frente Popular diziam que os CIEMs eram ociosos, que
tinham muito espaço e, hoje, os espaços são pequenos, quando esses CIEMs foram
projetados para até 40 mil crianças. Essas informações é que estão confusas, ou seja, de que há quatro mil, quarenta mil, a senhora deve entender
que nós que lidamos com crianças, com seres humanos, fica muito precipitado, eu
tenho certeza de que a senhora vai concordar comigo. Fugindo um pouco do assunto, mas como eu sou funcionária
concursada do Município, eu gostaria de saber a informação dada pelo Prefeito Olívio Dutra em declarações à imprensa no dia 22 de
fevereiro de 1989 de que a
SMED começaria a contratar mais de 308 professores para a rede de ensino
municipal. Hoje, pela manhã, recebi uma série de telefonemas de professoras que me disseram
que a SMED está contratando, através de contrato de emergência, esses
professores.
Então, diante das declarações do Prefeito de que
serão chamados os professores concursado e diante do que eu tenho para informar
à população quando consultada, eu perguntaria: qual o critério que a SMED está adotando para esse contrato? Qual o tempo desse contrato? Qual a data prevista
para o resultado final do concurso? Pediria que V. Exª me enviasse, o mais rápido possível, a
resposta ao meu Pedido de Informações.
Tendo faltado um quesito, Professora Esther, quanto
ao número real de
alunos matriculados no Curso Profissionalizante, V. Sª disse que não eram bem 640 alunos, eu
pergunto que destino foi dado a essas crianças?
A SRA. ESTHER
GROSSI: Nós tivemos uma inscrição, porque eles não eram matriculados, lá eles eram
inscritos. Foi dito a eles que era para conservar a matrícula que eles teriam
numa outra escola, feita já na outra Administração e não chegou a 200, mais precisamente 126 estavam
oficializados. Até
nós podemos revisar isso aí, mas o importante é que todos esses alunos foram
atendidos lá na SMED e
estudado caso a caso. Resumindo, ou eles iriam para a escola onde estavam
matriculados ou nós mesmos encaminhávamos para o Estado ou para o Município.
A SRA. LETÍCIA
ARRUDA: Professora, existe a Usina do
Gasômetro e está sobrando vaga no Paula Soares. Claro que não é escola profissionalizante, mas no
sentido de que um
aluno do Gasômetro foi enviado para a Vila Elizabeth, quando veio se
matricular. Então, eu
gostaria de saber qual é o critério?
A SRA. ESTHER
GROSSI: Na Usina do Gasômetro havia
alunos matriculados de Guaíba, de várias vilas da periferia, inclusive de que haveria
condução para eles, Kombis e etc. De modos que a volta deles para outras
escolas foi estudada para que fosse próxima porque, em geral, eles não eram do Centro da Cidade.
Posso garantir a vocês que nós estamos trabalhando diuturnamente com as responsáveis
da 1ª DE no encaminhamento dos alunos, colocando as crianças mais próximas de suas casas.
E, eu gostaria de dizer que não é verdade que nas
escolas da Prefeitura haja maior procura de vagas. Eu tenho dado concreto,
hoje, de crianças inscritas
nas nossas escolas ainda sem localização: 1704 no Município para 3292 no Estado e 3175 do
mutirão que ainda não foram preenchidas, dá um total de 8171 crianças
excedentes. Essas aqui, conhecidas. Não estimativas, hoje.
A experiência lá no João Goulart até se eu pudesse
explicar mais longamente seria ótimo; nós tínhamos lá uma professora que tinha
feito o curso de especialização sobre alfabetização em classes populares e que era professora de uma
1ª série, nessa sala de aula nós fazíamos um acompanhamento mais pormenorizado.
Inclusive eu estava fazendo uma experiência muito interessante, o que se chama
de psicopedagogia em sala de aula. Havia no início do ano – detectado pela professora – quatro crianças – bem, o trabalho
dela, se eu pudesse relatar, posso até prometer a vocês um relato dela
especialmente sobre um dos alunos. É uma coisa muito interessante, um dos tais que eu
acompanhei de perto. Essa é a professora Vera Moura, continua lá. Nessa classe
foi detectado que
havia quatro crianças que poderiam ter certas dificuldades de aprendizagem.
Normalmente as crianças com dificuldades de aprendizagem são encaminhadas para um
atendimento fora da sala de aula. Mas nós estávamos no GEMPA fazendo uma experiência de fazer esse atendimento
dentro da sala de aula, não isolando a criança; então, eu ia lá todos as
segundas-feiras para olhar um pouco mais de perto para essas 4 crianças e
realmente trazer soluções
e estudar, sugestões de medidas para ela, para a própria professora. Quer
dizer: não era eu quem trabalhava diretamente com as crianças, mas sugeria à professora.
Realmente o trabalho foi muito exitoso porque nessa classe nós tivemos 100% de alfabetização e esses 4 no início do ano eu mesma
achava que ia ser difícil. Não quero dizer que seja necessário e que nós estejamos advogando a
presença de um psicopedagogo, mas dentro da sala de aula, quando se faz
pesquisa disso, as crianças ficavam em turno integral, e há um detalhe. A
experiência é muito
interessantes. Às 11h várias crianças começavam a chorar porque não queriam
ficar de tarde, começavam a ter dor de barriga. Havia vários problemas dessas
crianças com as professoras trabalhavam perfeitamente bem e de tarde o contraste entre o atendimento
dos monitores e de alguns professores especializados e o trabalho da manhã, inclusive crianças desta sala de aula que eram 25 no
início do ano e acabaram 23, dois que saíram era porque não queriam vir à tarde, os pais trocaram para
uma escola de um turno.
Quer dizer, essa experiência é a que tive lá. Eu
perguntaria aqui, que é uma pergunta que tenho feito em todos os lugares
em que vou. Quais de vocês teriam gostado de ficar o dia
inteiro numa escola com a estrutura que ela tem, repetir o que vocês tinham num
turno no outro turno ou ter um atendimento, ficar vigiado no outro turno?
Sobretudo a partir dos 7 anos ou 12 anos etc.
A SRA. LETÍCIA
ARRUDA: Então, a senhora teve um aproveitamento de
quase 100%?
A SRA. ESTHER
GROSSI: Quase não, 100%, menos essas duas evasões.
Todos os alunos aprenderam a ler. Mas, sofrendo justamente os percalços dessas
crianças não
desejarem ficar no outro turno, contrabalançando esse tipo de dificuldades.
O que aconteceu é que com essas crianças foi
trabalhada uma outra proposta didática, levando em conta a vivência, as experiências
dessas crianças, levando em conta o processo de alfabetização, que eu disse
para vocês que é algo realmente digno de se conhecer e que todas as pessoas poderiam conhecer,
uma vez que a alfabetização é uma experiência de cada um de nós.
Realmente a proposta que foi aplicada aí, a quem se
deve isso e não ao fato de as crianças com essa mesma proposta, em outras
escolas até com três turnos se conseguiu um resultado semelhante.
A outra questão que a Verª Letícia colocou foi a
existência de espaço ocioso que poderia parecer uma contradição com a
existência de vagas. Espaço ocioso é em função da infra-estrutura física da escola, inclusive com o ginásio de esportes,
com o espaço à noite, isto não quer dizer que esse espaço ocioso significasse que havia sobra de lugares. Não, inclusive em muitos CIEMs
estava escrito desde setembro “não há vagas”, porque era previsto que
continuaria o mesmo número de crianças que havia no ano passado. Agora, a
possibilidade de dobrar o turno abre a possibilidade de novas inscrições nas escolas,
de novas matrículas, que não tem que ver com a afirmação de espaço material
ocioso. Essa afirmação não foi minha. Não somos um bloco único, há pluralidade
de idéias, é legítima
e desejada.
A contratação deu-se o seguinte: foi feito um
concurso em 1988, e os funcionários da Administração – já mandei pedir a lista
de classificação,
junto com os critérios – e as pessoas, os funcionários da casa me diziam que já me
mandariam, e essa
lista custou a chegar, então o Secretário da Administração disse que estavam
revendo conjunto de títulos enviados. E foi uma pressão para que essa classificação viesse. Antes de
chegarmos, a prova escrita já havia sido divulgada. Então o resultado só foi
possível com a insistência diária de nos vir às mãos na semana passada. Antes disso nós já
nos demos conta de que as nomeações, porque tantas escolas por abrir, apesar da
determinação da administração de que nós não faríamos aumento de funcionários,
ao contrário só teríamos interesse em enxugar, em função da alta folha de pagamento
que temos. Mas é lógico que professor entraria nessas exceções, e corajosamente
a Administração disse não, professor é uma exceção e nós vamos nomear. Mas como
nomear na semana passada, se apresentando o resultado do concurso as pessoas têm direito a recurso da prova de
título, isso demanda um certo tempo. Então a forma que nós encontramos foi
contratar emergencialmente, por 90 dias, absolutamente dentro da ordem de
classificação, para esperar pelos recursos e para poder fazer a nomeação a
partir desse prazo. Pelo mesmo salário, que será retroativo, agora com o salário fixo, mas
quando for nomeada, retroage com todas as vantagens que ela tem pelo Plano de Carreira, e valendo já
com o tempo de serviço desses três meses do contrato emergencial. Então já
estamos chamando os professores, porque por uma questão de hierarquização
das prioridades, podermos atender às crianças o mais cedo possível.
A SRA. LETÍCIA
ARRUDA: Então os professores podem se
dirigir à SMED, segundo a ordem de classificação?
A SRA. ESTHER
GROSSI: Podem. Os primeiros já estão
sendo chamados e inclusive já estão sendo lotados nas escolas. Pode haver
alguma alteração,
algumas pessoas contratadas tenham que ser substituídas por outras, mas
esperamos que isso não seja um número grande. E esperamos que muito próximo
tenhamos que contratar mais e que esses que estão entrando agora e que
eventualmente tenham que sair, possam também entrar.
A SRA. LETÍCIA
ARRUDA: E quanto ao Conselho Professora,
a senhora, em breve nos dará uma resposta?
O SR.
PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Vieira da Cunha.
O SR. VIEIRA
DA CUNHA: Inicialmente,
Secretária, a saudação
da Bancada do PDT nesta Casa ao atendimento do convite para prestar aos
Vereadores os esclarecimentos necessários sobre esta questão que eu,
pessoalmente, reputo como fundamental para a nossa Cidade, assim como a do transporte coletivo. Estamos
com a abertura de mais um ano letivo e essas questões estão preocupando toda a comunidade e,
nós, como representantes da comunidade, estamos igualmente muito preocupados. Notadamente nós, do PDT, que antecedemos a Frente Popular no Governo
Municipal. Vou começar sendo um pouco duro, mas sinceramente. Na minha concepção, Secretária, esse mutirão educacional foi um
fracasso. As informações do Boletim Oficial do dia 8 de fevereiro da
Administração Popular que a SMED teria montado mais de 100 postos de inscrição em doze regiões da periferia de
Porto Alegre e já esse
boletim falava em quarenta mil crianças sem vagas no ano letivo. As informações
que temos são as de que o projeto inicial seria dos postos fixos, mas que as
pessoas não acorreram
a esses postos. Não
lhe parece, Srª. Secretária que se fosse real
esse número de 40 mil sem aula na Cidade, que haveria filas de quarteirões de pais
angustiados, com 40 mil crianças sem aulas a correr a esses postos; foram afixados
cartazes, lideranças comunitárias foram chamadas a participar, a grande
imprensa deu cobertura que a SMED estaria fazendo um amplo chamamento à comunidade. E a SMED precisou
ir de casa em casa para achar os tais de dezenas de milhares de excedentes.
Então, parece-me que a realidade desse mutirão educacional, que hoje a própria
Secretária já disse que é uma sondagem por amostra, traduz, no meu ponto de vista, com todo o respeito, o
fracasso desse tipo de atividade. E vejam que os motivos delineados pela Srª Secretária para esse número e aí eu chamo a atenção
para um outro detalhe,
eram quatro mil e oitocentos e hoje já são três mil.
A SRA. ESTHER
GROSSI: Foram colocados mil e
oitocentos.
O SR. VIEIRA
DA CUNHA: Mas, Srª Secretária, foram colocados
entre a realização do
mutirão e a divulgação, porque esse número de quatro mil e oitocentos é recente.
A SRA. ESTHER
GROSSI: Havia o pedido de vagas nas escolas e obtiveram essas vagas.
O SR. VIEIRA
DA CUNHA: O que leva a
crer que outros podem obter. Por que os outros três mil não podem?
A SRA. ESTHER
GROSSI: Eles já tinham pedido antes.
Eles se inscreveram no fim do ano. Nós estamos trabalhando junto a SEC.
O SR. VIEIRA
DA CUNHA: Só mil e
oitocentos alunos?
A SRA. ESTHER GROSSI: Sim. O número de crianças sem matrículas é de três
mil, cento e sessenta e cinco, com nome e endereço.
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Eu volto afirmar que essa projeção para quarenta mil fica cada vez
mais questionável, porque de três mil, cento e cinqüenta se projeta para
quarenta mil. Eu quando discutia da tribuna com o Ver. João Motta, ele me dizia que o critério era
matemático. Depois o Ver. João Motta utilizou o tempo de Liderança do PT para
me explicar que havia vetores. Cinco, seis vetores que chegariam um dia a quatro mil e oitocentos –
então para quarenta mil! Agora são três, cento e
cinqüenta para quarenta mil. E são 5% das vilas e se toma como número absoluto. Cada vila tem as suas
características, as suas particularidades, não vamos querer fazer uma
amostragem na Vila Monte Cristo, que tem problemas históricos de falta de escolas, as
crianças têm que andar quilômetros e quilômetros para conseguirem chegar numa sala de aula. Vamos
fazer uma pesquisa na Vila Monte Cristo e não vamos em outras, por exemplo, a Vila União, em que as crianças têm matrícula lá no CIEM
João Goulart. Então, 5% das vilas...
A SRA. ESTHER
GROSSI: Encontramos um grande número de excedentes...
O SR. VIEIRA
DA CUNHA: Mas quais
foram os critérios para escolher essas determinadas vilas? Isso precisa ser esclarecido, pois não foi esclarecido
até agora.
E outro fundamento que vejo: o pai está desiludido
com o sistema educacional e, por isso, não procurou a SMED para inscrever o seu filho. Mas essa
desilusão é com o sistema educacional convencional. A nossa proposta de CIEM de
ensino de turno integral é exatamente contra essa escola convencional de dois turnos.
Claro que essa desilusão existe. Quem não sabe? Mas o pai dessa criança
aprendeu na escola de dois turnos, não foi na escola integral, com ampla
assistência. O seu
tio, o seu primo, o seu avô também têm o ensino convencional na sua mente e
talvez por isso não procurem a escola. Depois eu queria comentar também com a
senhora a questão pedagógica,
sempre levantada pelo PT nesta tribuna. Quando nós temos, aqui, a nossa
discussão, eles dizem assim: mas não adianta todo aquele prédio, aquela
maravilha, se a questão pedagógica não é aplicada corretamente, ou a pedagogia não é correta. Mas será que a
pedagogia do PT, a pedagogia da Frente Popular só pode ser aplicada em dois
turnos? A pedagogia da Frente Popular não tem lugar, é incompatível com o turno
integral? Não vejo qual é a relação da questão pedagógica com a questão do
turno integral! Eu acho, inclusive, que o turno integral permite a aplicação
dessa pedagogia adequada preconizada pela Frente Popular. Por último, a questão do índice, que
a Secretária pede para que nós analisemos e reflitamos, o índice de repetência
ou de desaprovação do CIEM. Mas veja, Secretária, que ao mesmo tempo em que a
senhora nos traz o índice, se não me engano, de 49% de um CIEM – parece que foi este o índice
– menos da metade das crianças que cursaram a primeira séria não passaram para
a série seguinte, a senhora traz um índice de mais de 70% de um outro CIEM.
Então, essa própria
contradição de um índice de 40 e poucos por cento e outro de 70 e poucos por
cento demonstra que a questão não é o turno integral, a questão não é o CIEM. Demonstra que há
um problema localizado numa determinada escola, que pode ser direção, pode ser
corpo de professores, pode ser qualquer um, mas não turno integral. Então, não me
parece lógico questionar o turno integral pelo índice de reprovação de um CIEM,
quando a senhora mesma traz um índice de aprovação de um outro CIEM de 70% ou
mais, que me parece um índice
excelente e que nos demonstra que os CIEM realmente têm condições de funcionar
adequadamente. Por último, antes de passar às perguntas, eu quero dizer que
recebo com um alívio muito grande e até com felicidade a afirmação da Srª Secretária de que o seu desejo
era manter os CIEM funcionando em turno integral. Foi afirmado isso aqui pela Srª Secretária e é uma afirmação realmente tranqüilizadora
para nós. Isso nos
faz crer que o desejo da Administração Popular seria o de manter os CIEMs em turno integral, não o faz
pelo número de excedentes. Como nós questionamos, e eu continuo questionando,
esse número de
excedentes e nada melhor do que o tempo para nos provar quem afinal de contas está com
a razão, se a Administração
Popular ou nós que
estamos contestando este número de 40 mil, porque as vagas terão que ser
preenchidas todas e terão que faltar vagas, porque as vagas do Estado mais as
do Município não
terão condições de abrigar 40 mil crianças. Então, não vai poder haver uma vaga
sequer nas escolas de Porto Alegre, nem do Município e nem do Estado, a não ser
que esses dados
realmente não sejam reais. Mas quero ratificar que recebo com muito prazer essa afirmação da Srª Secretária, que ainda não tinha
tido oportunidade de ouvir, de que o desejo da SMED seria o de manter os CIEM
funcionando em turno integral. Passo às perguntas, que são quatro: 1ª) Quais os
CIEMs cujas desativações já foram decididas pelo
Governo Municipal, desativações entendidas – e esta é uma outra discussão nossa
– como eliminação do turno integral? 2ª) Dentro do compromisso da Frente
Popular de ampla consulta para tomar suas decisões, quem, ou quais entidades, a SEMD ouviu para
decidir pela eliminação
do turno integral, e qual foi o método utilizado para esta consulta –
questionário, assembléia geral, ou votação, enfim, de que forma a comunidade se
manifestou? 3ª) Se a SMED dará continuidade à construção dos CIEMs já iniciados,
mas ainda não completados e se a SMED pretende construir outros ou vai partir
para outro tipo de projeto. Se positiva a resposta, ou seja, se vai partir para
outro tipo de projeto,
como seria a escola-modelo preconizada pela Frente
Popular? Quarta e última
pergunta: se a constatar que o número projetado de excedentes, que é este de 40
mil que consta no Boletim e está ratificado hoje pela Srª Secretária, não é real, estou
partindo dessa hipótese, se a SEMD se propõe a
revisar a sua posição inicial de desativar os CIEMs? Eu sou grato à Srª Secretária pela atenção.
A SRA. ESTHER
GROSSI: Em primeiro lugar, realmente, é
preciso que fique bem claro para vocês todos que o meu desejo de que não
houvesse tantos excedentes em Porto Alegre e que nós pudéssemos manter os
CIEMs, justamente para podermos fazer pesquisa sobre esse atendimento alternativo, haver
espaço para que esse atendimento alternativo das crianças em outro turno
pudesse ser feito com mais desafogo, não significa, com isso, que eu esteja dizendo que eu
estou convencida que a escola de turno integral é a ideal. Em absoluto. Quanto a isso eu recomendo a vocês leitura
de Miguel Arroio, Vitor Paro, pessoas que estudaram, já neste País todos os
aspectos relacionados com o tempo e o aprendizado e que eu sei que na Europa e
nos Estados Unidos se questiona o tempo integral, porque é, entre aspas, porque é das nove da manhã às quatro da tarde, com muitos intervalos
de férias nestes dois pólos do mundo desenvolvido. O questionamento sobre a
duração exagerada do
tempo escolar com prejuízo pedagógico, porque na Europa, nos Estados Unidos, em
outros lugares, no Japão,
não foram instituídas aulas o dia inteiro por motivos pedagógicos. Sempre por
motivos econômicos, para que as mães pudessem ser liberadas para trabalhar. E
hoje se pergunta se do ponto de vista pedagógico isso é melhor para os alunos, embora seja difícil de
se fazer essa mudança
nesses lugares onde a
vida está organizada assim. Mas, vejam bem, as escolas européias, americanas, de outros países do primeiro mundo, não são como as nossas previstas
de tempo integral. As de tempo integral são aquelas que prevêem a formação, o
afastamento da família, a estadia na escola por um tempo longo. Bom,
esclarecido isso, eu gostaria de fazer um convite para que vocês dêem uma chegada ao Parque
dos Maias, na Vila Cruzeiro, hoje ou amanhã. Amanhã nós vamos receber a Profª.
Madalena Freire que está aí e eu não sei como vai ser o esquema montado nas escolas –
mas está assim de crianças procurando vagas nas escolas, não só nas nossas
escolas, mas nas escolas do Estado. Nós temos hoje em Porto Alegre, com os nomes das
crianças, 8.171 crianças entre a SMED e SEC. Não é verdade que exista uma
procura só nas
escolas municipais, a procura é geral de vagas.
O SR. ERVINO BESSON: Por que não procuraram as escolas? Por que não se
inscreveram?
A SRA. ESTHER
GROSSI: Essa é a grande lição deste mutirão. Nós ouvimos o povo, não só
ouvimos os que falaram, mas fomos buscar aqueles que já não tinham voz para a
nossa responsabilidade, porque os filhos deles não aprendiam na escola e o senso, a sabedoria
popular dessas
pessoas, sabendo que
não vale mais a pena
colocar essas
crianças nas escolas. Não é verdade que os CIEMs sejam mais procurados na
periferia, há outras escolas como a Dolores Alcaraz, lá na Restinga que teve
83% de aprovação e é um colégio profundamente procurado dentro da própria SMED. Agora, no Estado
também há escolas muito procuradas e esse fato de que nos CIEMs as crianças não aprenderam
mais do que nos outros não passa desapercebido pelos pais, de jeito nenhum,
eles são os primeiros a sentirem na carne, porque vocês sabem o que é um filho
ser reprovado. Depois de um ano inteiro de esforços e expectativas, chega no fim do ano e não deu em nada.
Agora, por que não foram buscar? Isso é
responsabilidade nossa, consulta popular mais efetiva do que a que nós fizemos
de ir de casa em casa ouvir as pessoas, inclusive
nesta pesquisa que falei, pesquisa qualitativa com sociólogos e antropólogos, ouvindo
longamente numa pesquisa que se chama de clínica, porque foram 80 famílias onde
foi aprofundado o estudo, nós fizemos uma consulta popular das mais
aprofundadas e tivemos ao longo desses dois meses da Administração contato com associações
comunitárias das mais diversas regiões de Porto Alegre, ouvindo a opinião, a
posição dessas lideranças e realmente a consulta popular
não é uma questão
demagógica. Ontem na
Restinga eu explicava ao Vereador e ele disse-me assim: “Mas a senhora está tirando uma
coisa boa de quem já pode aproveitar”. “O CIEM é bom”, até colocou um menino e perguntou, “tu
gostavas do CIEM?” E o menino disse que gostava. Então eu estava me interpelando, como é que eu
tiro, como se fosse o pão da boca de alguém que usufrui de uma oportunidade, de um
privilégio. Aí eu disse: é como se nós tivéssemos dois filhos, um de repente
nós perdemos de vista, e o outro se acostumou a comer duas fatias de pão. Aí de
repente este meu filho, para minha alegria e descoberta, aí eu vou consultar que ele está
comendo duas fatias de pão se ele quer repartir o pão com outro. Eu só tenho duas
fatias de pão.
O SR. VIEIRA
DA CUNHA: Com este seu
exemplo a senhora
considera que o CIEM é melhor do que a escola convencional. Se equivale aos dois pães, a outra equivale a uma
fatia. A senhora está
afirmando porque a justificativa de desativação continuam sendo os excedentes.
A SRA. ESTHER
GROSSI: Para algumas mães isso realmente facilita, que ela
pode ficar livre. No ano passado mesmo a Letícia me perguntou a minha experiência lá no CIEM da Vila
Elizabeth, eu me lembro, foi experimentado lá quando voltou a funcionária da
escola que foi levar uma criança que adoeceu na escola às 11 horas da manhã, e veio
brava dizendo assim, colocam o dia inteiro aqui para nós cuidarmos e estavam a
mãe e o pai dormindo em casa às 11 horas da manhã. Quer dizer essa é uma facilitação que poderia
corresponder, na minha imagem metafórica que sempre claudica, em algum aspecto às duas
fatias de pão. Que isso
facilita para as pessoas. Agora diante da necessidade de outra criança receber aquilo que lhe é de
direito efetivamente a única atitude responsável da Administração é fornecer
essa oportunidade às
duas crianças, ao invés de uma só. A continuidade da construção do CIEM é realmente um estudo
a que nós já estamos procedendo
justamente até por causa dos contratos com as empreiteiras, em função de toda
essa problemática. E
como seria a escola modelo para Porto Alegre nós realmente ainda não construímos esse protótipo. Eu hoje mesmo, ouvindo da Professora Neuza
Canabarro a afirmação de que uma escola com 1000 alunos, ela comporta uma só direção,
uma só sala de
supervisão, uma só sala de orientação educacional, etc, eu mesma fiquei pensando, é um
argumento que tem peso. Então nós temos que pensar qual é a escola ideal e a
mais econômica, mas a que realmente possa facilitar mais a vida das comunidades.
Por exemplo, lá na
Glória, em que ainda
estiva segunda-feira de noite, no Centro Comunitário da Vila 1º de Maio, as
pessoas diziam para nós: o CIEM lá em cima do Caminho dos Alpes é um problema. Eles têm que sair da Vila 1º de
Maio, fazer um longo percurso, descer e depois subir, inclusive, quer dizer,
com cansaço para as crianças, perigo de andar nas ruas, além disso, dias de
chuva, etc. Bem, eles dizem para nós, preferiríamos uma pequena escola aqui no
coração da vila. Evidente que tem que ser discutido
com todos os elementos, pensando com todos os elementos que entram em jogo nesta problemática. Acho que
poderemos pensar juntos isso. Aceitamos sugestões, realmente em função inclusive da localização
das escolas dentro de toda Porto Alegre, onde nós teremos necessidade de saber se são só 40
mil ou se são mais de 40 mil para poder justamente decidir onde é que Porto Alegre precisa de
escolas. Ou menos; estimativa é estimativa. Agora, escamotear, querer dizer daí
– a imprensa, nós nos debatemos com certas dificuldades da imprensa, como nós
já vimos aqui alguma coisa que teria sido dita eu que teria afirmado, até com a nossa imprensa
local. Quando eu vi esse
Boletim da Administração, eu fui furiosa lá, “quem disse que são 40 mil?” Nós
dissemos que era uma projeção. Só que ainda não usamos todos os meios de
comunicação para
esclarecer que foi uma projeção, e que esse dado vai ser comprovado. Hoje
existem 8.171 crianças comprovadas, sem escola. E esses 40 mil – tomara que
seja menos, tomara. Agora, nós não podemos escamotear que existem, existem.
O SR.
PRESIDENTE: A Mesa
esclarece que de acordo com o protocolo regimental, cada Vereador terá 10 minutos para formular perguntas sobre o
temário. As perguntas deverão ser objetivas e sucintas, sendo vedado qualquer
comentário posterior. A Mesa tem sido tolerante nesse sentido. No entanto, nobre Vereador, como existem
mais sete Vereadores
inscritos, o que representa, se considerarmos que todos os Vereadores usarão os seus 10 minutos, nós teremos de intervenção de
Vereadores mais 70 minutos, razão pela qual nós não temos sido tolerantes e temos
aplicado o Regimento com rigor.
O SR. VIEIRA
DA CUNHA (Questão de Ordem): Quero dizer a
V. Exª que fiz quatro perguntas, duas foram respondidas e outras duas não, sendo que essas podem ser respondidas
sucintamente, apenas quero repeti-las. Primeira: quais os CIEMs cujas
desativações já foram decididas pelo governo municipal? Segunda: a se
constatar que o número projetado de excedentes não é real, a SMED se propõe a revisar a sua posição de desativar esses CIEMs?
A SRA. ESTHER
GROSSI: Neste momento, todas as escolas
da Prefeitura foram
transformadas em escolas de dois turnos. Se, por alguma felicidade, em alguma
zona sobrar espaço em sala de aula para que essas atividades alternativas
possam ser trabalhadas com algumas turmas, muito gosto nós teríamos em permitir que isso
acontecesse. Neste momento, a determinação é global: todos já estão matriculando crianças
nos dois turnos. E as comunidades estão muito satisfeitas, porque em vez de ser só a 1ª
série, há possibilidades de abrir para a 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries, que estavam
vedadas em muitas delas, com graves prejuízos à continuação da escolaridade das
crianças.
O SR.
PRESIDENTE: O próximo Vereador inscrito é o Ver. Luiz Machado. A Mesa esclarece
que, embora regimentalmente cada Vereador tenha direito a 10 minutos, pede aos nobre Vereadores
que sejam objetivos e concisos na formulação das suas questões, apelando para que diminuam
o tempo a que fazem jus regimentalmente, porquanto nós já estamos com 2 horas e 44 minutos de Sessão.
O SR. LUIZ
MACHADO: É uma
satisfação receber a Secretária nesta Casa e quero saudar S. Exª neste momento. Sei que nós,
Vereadores, também ajudamos a administrar nossa Cidade. Eu quero dizer que na campanha eleitoral de 1988,
o então candidato pelo PMDB, Dep. Antônio Britto foi acusado, na época, injustamente, é claro, de
ter colocado na imprensa qualquer intenção de alterar o Projeto CIEM ou até
mesmo fechar o CIEM. Na época foi uma injustiça, porque logo ele veio aos
veículos de comunicação e desmentiu a notícia. Haja vista que olhando isso se vê que se ele desmentiu
é porque quem colocou
essa notícia, colocou errado, apenas trocaram as letras, não era PM era PT. Eu
quero dizer isso porque a Srª Secretária colocou vários pontos e até me fogem as condições de
discutir com V. Sª
porque não conheço essa
área, a área de educação e os conhecimentos que V. Sª. tem. Eu quero dizer que sou Vereador vindo dos
movimentos comunitários e posso dizer que a nossa periferia de Porto Alegre,
principalmente a Zona Sul, a Vila Restinga, aqueles CIEMs que lá foram construídos não foi um presente do
ex-Prefeito Alceu Collares ao povo da Restinga, isso deve ficar bem claro aos
meus nobres amigos Vereadores do PDT. Essa foi uma conquista dos moradores, isso sim. Esses moradores que reivindicavam uma melhor
escola, da população que queria uma escola para seus filhos, na altura como é o
CIEM. Por quê? Porque a população é uma comunidade carente, o ganho médio está em
torno de dois salários-mínimos. Ontem, V. Sª ainda viu uma senhora dizendo que tem 8 filhos. Aí, eu pergunto:
uma pessoa que ganha dois salários-mínimos e tem 8 filhos, pode ter condições
de atender a seus filhos, em termos de educação, de moradia, de saúde? Não tem condições. Eles acharam no CIEM quase
que um refúgio, porque a criança entrava pela manhã e recebia o café, o almoço,
o café-da-tarde, enfim, era como é: esporte, saúde e educação; integração. Ontem a população
comprovou que a sua pesquisa estava certa: a senhora disse que foi colocada uma
pesquisa em torno de 5% das vilas. Ontem, tínhamos 400 pessoas dentro do CECORES, só 20 se
colocou favorável ao turno dividido, ou seja, dois turnos e 380 pessoas se
colocaram favoráveis ao turno integral. Portanto, a senhora está com a razão de fato,
são 5% que foram consultados, em 400 pessoas, eram 380 favoráveis a turno integral.
A população da Restinga, como a senhora disse que a população tem que se mobilizar e
reivindicar junto ao Governo, isso a senhora pode ter certeza de isso aí não precisa nem
pedir ao povo, porque o povo da Restinga está mobilizado e ligeiro, não vai ser
com sino, como muitos professores fizeram na frente do Palácio, mas pode ter certeza de
que vai ser com muito barulho na frente da Prefeitura para não alterar, em termos de
alteração de turnos, no CIEM, e sim turno integral. Por quê? Porque foi uma conquista dos
moradores, não foi um presente. Os moradores estavam satisfeitos com os seus
filhos. A senhora ainda ontem viu. A senhora colocou crianças favoráveis, crianças com sete anos.
Então, se nós que representamos a comunidade temos
que falar aquilo que a comunidade quer, aquilo a que ela aspira, aquilo que ela deseja. Eu sei que é
difícil, principalmente para o Governo que prometeu soluções em todos os sentidos. É
difícil ter que agora comprovar isso; soluções essas que eram várias, mesmo essa que não foi colocada na
campanha eleitoral, a alteração do Projeto CIEM. Porque acho nos meus
pensamentos que a comunidade da nossa periferia, principalmente das vilas, cada uma – como já foi
colocado por outros companheiros
– tem os seus costumes, cada um tem a sua vida e lá na Restinga, se a senhora fizer uma pesquisa, não essa pesquisa, muitas
vezes, como foi feito esse mutirão que foi feito sobre a educação, estiveram em
frente o Poko Preço, eu recordo, mas, essas pessoas que fizeram esse mutirão, que trabalharam, pessoas da
comunidade que estavam junto com representantes da Secretaria de Educação, estavam juntos na frente do
Poko Preço, um pouco mais de um mês ou menos de um mês, todos são pessoas que
têm um pouco mais do que aqueles que querem tanto o turno integral para o CIEM. Haja vista que são pessoas que concordam com dois turnos, aquelas
pessoas que trabalharam no mutirão. Então eles sugestionavam as pessoas fazendo
com que apoiassem dois turnos nos CIEMs. Eu sei disso ai porque tem pessoas da Associação que represento
que estavam junto nesse mutirão, fazendo com que as pessoas apoiassem a alteração no CIEM.
Faço, então, uma pergunta à
Secretária, ontem foi colocado por um líder comunitário de lá para a senhora para que deixasse à vontade da comunidade. Aqueles
que querem turno integral, tragam seus filhos para turno integral; aqueles
que querem só um turno,
que aceite assim, pois na comunidade da Restinga a maioria aceita turno integral e espero a sua
sensibilidade no sentido de olhar, em primeiro lugar, que é a comunidade, se
não me falha a memória,
mais distante do Centro
da Cidade. Fica a 28 km do Centro. É uma comunidade que leva 1 hora e 15 minutos para se deslocar da sua casa ao
seu trabalho. Então necessita que seu filho
fique no CIEM o dia inteiro porque pai e mãe trabalham o dia inteiro, pois o
salário ganho pelo marido não consegue sustentar a família, precisa a esposa
trabalhar, e como ficam
os filhos? E como disse lá ontem, ficam com a vizinha do lado, ficam na rua.
Eu conheço os seus métodos, quem sabe a senhora quer fazer uma geração do
futuro muito distante. Acho que, no momento, nós temos que resolver é a raiz do
problema. Já existe, então nós temos que contornar isso aí.
Espero a sensibilidade da Srª Secretária, que deixe, pelo menos na
Restinga, para a comunidade aquilo que ela mais almeja que é turno integral para os filhos.
Era essa a minha colocação.
A SRA. ESTHER GROSSI: Parece-me que essa intervenção, ela volta a vários pontos já tratados aqui, mas de qualquer
maneira também retorno a eles.
Qual a comunidade da Restinga, qual comunidade da
Restinga que insiste
em turno integral?
O SR. LUIZ
MACHADO: Toda ela, a
sua maioria.
A SRA. ESTHER GROSSI: E as 600 crianças sem escola encontradas em algumas
pequenas partes da Restinga no mutirão, cujos dados estão aqui? Essa não está incluída nessa
comunidade? Ontem
mesmo o senhor viu
duas pessoas que não tinham vagas fazer um apelo dramático ali: “eu preciso de vaga
para o meu filho”.
Qual é a comunidade da Restinga que está pleiteando
o turno integral? É a
comunidade daqueles que já tiveram esse privilégio e que querem manter esse privilégio? Quer dizer, vamos
garantir para uma elite da Restinga? De 600 crianças, só do mutirão, que não tem
escola... O senhor
teve oportunidade de ir, hoje, ao Ludovina Fanton para ver o número de crianças que estavam lá
se inscrevendo para o outro turno do CIEM? Faço este convite, vá lá ver o
número de crianças que estiveram lá se inscrevendo!
Então, qual é a comunidade da Restinga que está
sendo representada e que está exigindo? É uma comunidade que isola uma parte
dela? Que diz: nós precisamos de escola o dia inteiro para os nossos filhos, e
os outros não fazem
parte dessa comunidade?
O SR. LUIZ
MACHADO: Só para lhe
dizer que a Vila Castelo chegou lá há pouco tempo, faz cinco ou seis meses.
A SRA. ESTHER
GROSSI: Essas questões já respondi
amplamente, como nós vemos o problema de justiça, como a educação que é direito
de todos, dever do Estado e das famílias será promovida, se nós não damos
igualdade de condições para o acesso e permanência na escola? E no nosso caso, realmente, tratarmos diferente
crianças que tem o mesmo direito. Então uns na Restinga vão ficar o dia inteiro na escola e
outros ficarão sem escola.
Acho que é o mínimo de consciência política e comunitária que acredito que os
moradores da Restinga têm.
Em primeiro lugar, a contagem de 380 e 20, não sei
como ela foi feita, pois não houve nenhuma votação de braço levantado. Por
outro lado era uma assembléia
dos pais de alunos do CIEM Larry, dos pais que já estavam com os filhos naquela escola.
E além disso, a minha percepção era que pelo menos 50% das pessoas que se
manifestaram não estavam interessadas em que o seu filho permanecesse em dois turnos na escola.
O SR.
PRESIDENTE: O próximo
orador inscrito, que não está presente, é o Ver. Airto Ferronato. Passamos a
palavra ao Ver.
Heriberto Back.
O SR.
HERIBERTO BACK: Apesar de a
hora estar adiantada, vou pedir licença para continuarmos no debate, e fazer um depoimento à Secretária e, particularmente para a Bancada do
PDT. Em primeiro
lugar, quero dizer que saúdo a Secretária que nesta exposição, como em outras a que eu assisti, me tranqüilizou
uma outra coisa: eu tinha uma série de dúvidas se na frente da Secretaria de Educação, nós não deveríamos ter uma pessoa
com alto pique administrativo, como prioritário à questão da educação. Hoje estou convencido
de que a escolha foi muito acertada. Digo isso porque embora todo o
reconhecimento que eu tenha a Professora Neuza Canabarro, que eu considero
minha amiga, batalhou conosco em muitas batalhas para reconstruir o sistema de
ensino em Porto
Alegre, foi de um grande dinamismo se
reconstituir a rede escolar dentro de Porto Alegre. E, se nós comprarmos o que foi feito
pelo governo do Estado, nós vamos ter um parâmetro que não tem termos de
comparação. Nós temos várias escolas, inclusive construídas pela própria
comunidade, que estão paralisadas, nós temos uma que foi concluída, que é a escola do meu companheiro que já
saiu daqui, José Brizola, ele conseguiu fazer uma escola modelo, está
pronta, pela metade do preço, foi conseguido pela enorme garra daquela comunidade do
Jardim Renascença. Temos uma série de escolas em construção, tudo meio
paralisado por falta de verba.
Então, nesse termo de comparação, é necessário fazer esse
reconhecimento de que, na Administração Collares, efetivamente, se investiu
duro no sentido de reconstrução da rede municipal. Há muitas queixas de que foi
dinheiro para a SMED. É
discutível se o CIEM é correto da maneira que foi construído ou não. Eu, particularmente, fui um
ardoroso defensor dele. Graças à atividade da grande Glória e da Cruzeiro ela
teve uma conquista de três CIEMs naquela região. Isso devido à luta desta comunidade e muitas vezes junto com a
Administração, para a conquista de terreno como o Martim Aranha. Dou outro
depoimento ao Ver. Vieira da Cunha com a escola da Restinga, a Pessoa de Brum. Quem me conhece sabe
que sou advogado ligado à defesa de vilas, pois, para garantir a construção
daquele CIEM eu fiz uma coisa, eu assumi a responsabilidade de despejar 20 a 30
famílias que tinham
se alojado naquela área, tomando cuidado que nenhuma ficasse desalojada. Fiz isso para inviabilizar lá a
construção daquele CIEM. A minha preocupação a seguir é com relação ao funcionamento dele.
Daí a nossa decepção com o Martim Aranha, especificamente, onde sou do conselho consultivo dessa escola. A grande preocupação
do Conselho e do CIEM daquela região é a profunda ineficácia desse funcionamento. O alto índice de
violência entre as crianças, principalmente no turno integral. Nós precisamos
fazer um debate construtivo, buscar saídas. Muitas idéias aqui foram acolhidas.
Estou manifestando a
minha preocupação, não só pelo alto índice de repetência que tem lá, mas, principalmente, pelo alto
índice de violência dentro da escola e não se conseguiu fazer esse turno integral funcionar. Esse é um aspecto. O outro é uma
série de experiências que também fizemos na região, que foi levar atividades para dentro da Vila com
essas crianças. Então, lá nós temos uma integração
com a FEBEM e tem aquele monstro que é a FEBEM Zona Sul. Aquilo lá nunca
funcionou muito. Agora, o que está funcionando é a descentralização do atendimento a essas crianças dentro das suas
comunidades. Então, tem lá na Vila Mato Grosso, na Vila Rio Branco, a
experiência que tem-se
dado de pegar essas
crianças fora do turno da escola e fazer uma atividade de marcenaria, de
recreação, com os
mais precários recursos, a diminuição, por exemplo, do “loló”, dentro destas vilas é extremamente visível,
caiu vertiginosamente. Então, essas experiências, quando têm pequenas atividades extras, dentro das suas comunidades,
especificamente, têm dado um resultado altamente positivo.
Eu não tenho uma posição absolutamente firmada a
respeito dos dois turnos, eu tenho a preocupação de que no Martim Aranha não funcionou e que estão funcionando melhor essas pequenas experiências
descentralizadas. Dentro do debate que fizemos, foi o que conseguimos alcançar
na grande Glória,
Temos uma grande escola-pólo, que é o CIEM, e conseguimos seis pequenas
escolas dentro da comunidade. Eu acho que este, talvez, seja um sistema ideal
de escola. É a escola-pólo onde tem o ginásio de esportes, onde tem a
biblioteca, onde tem todo o instrumental e as pequenas escolas comunitárias que têm essa múltipla atividade. Nós temos
que inventar, nós temos que criar, nós estamos num país onde não tem nada pronto, nós
temos que avançar, progredir. Eu diria que o meu tipo ideal de escola seria o
que nós alcançamos na
Glória.
O Sr. Ervino
Besson: Com Brizola tudo vai mudar!
O SR.
HERIBERTO BACK: Eu tenho um
profundo respeito pelo Brizola, principalmente quanto a sua preocupação com a
educação, mas tenho a profunda preocupação, hoje, sobre o método pedagógico sobre
distinguir educação e escolaridade e a preparação do corpo docente para a
educação. Eu não acredito que se a educação não for comunitária, que seja educação. Pode ser escolaridade. E, me desculpem, uma escolaridade
porca, que está se
vendo hoje por aí. Por isso é que as crianças estão abandonando a escola, por isso que elas não aprendem,
porque se coloca uma escolaridade que não tem nada a ver com a sua vida. Na época, eu
apelava ao Prefeito Collares: vamos sair atrás das famílias e das crianças.
Vamos campear, vamos discutir, vamos procurar. É absolutamente justo, porque
mais grave do que não
ter nada em escola é a descrença. A nossa escola está desmoralizada, hoje. Não
se acredita mais na escola, ela é uma coisa inútil para a nossa população. Por isso, é altamente
importante que nós tenhamos, à testa, uma pessoa profundamente identificada com
a educação e não com a escolaridade, com todo o respeito que tenho pela
Secretária anterior, Neuza, de quem sou amigo particular. O que está se fazendo no sentido de
readaptar esse corpo docente a essa nova realidade? Fazer um outro tipo de
escola, não a escolaridade e sim essa educação, porque a grande outra
dificuldade, para concluir, no Martim Aranha é a profunda dificuldade de diálogo
entre a comunidade e o corpo docente. Uma profunda guerra. Isso é altamente preocupante. Não
adianta nós termos
prédios, se não temos o corpo docente e o sistema de ensino preparado
efetivamente.
Essa é a pergunta: o que esta se fazendo nesse
sentido?
A SRA. ESTHER GROSSI: O nosso projeto na Secretaria de Educação é da
atualização pedagógica, porque, realmente, o insucesso na escola é o núcleo
fundamental da educação hoje no Brasil. Dentro dessa atualização pedagógica – eu acho que foi
bem apontado – há três focos que precisam ser atacados. Um deles é o da relação
do professor com a comunidade, relação que vai desde a posição ideológica do professor,
da direção, do corpo docente com as classes populares. Esta é a parte mais
difícil dessa
atualização pedagógica. É que os professores, que são de outra classe
social, realmente vençam os preconceitos que têm com relação às classes
populares e tenha com elas uma postura positiva, de confiança, que as
expectativas sejam positivas, na linha de que essas crianças vão poder aprender, de que elas não são crianças com
carências intransponíveis, de que nestas comunidades
toda a vivência que existe lá é pobre, que nós precisamos transformar
inteiramente esse
tipo de vivência das classes altas e médias. O segundo ponto é o aspecto da
vinculação da cultura com a proposta de ensino, ir ao encontro, agora, dos
valores que essa
comunidade tem, vive, aprecia e a ciência que é o móvel da escola. A escola quer que a
criança se aproprie de um conjunto de saberes acumulados pela humanidade que é patrimônio de todos nós e que
são instrumentos de vida. Mas essa ciência tem que vir revestida da cultura das
comunidades. Este é o
grande trabalho de Paulo Freire, está aí a filha dele, Madalena, que é nossa
assessora e que vai falar amanhã, no nosso primeiro encontro. Paulo Freire também virá a Porto Alegre, não
só para falar com os professores, mas se possível com os pais, para abordar isso que o Dr. Ernani Fiori chamou
de antropologia da educação, ou seja, temos que construir um modelo de proposta didática
que leve em conta a cultura, os valores, as especificidades das classes populares. E o
terceiro ponto desta atualização pedagógica é a apropriação pelo corpo de profissionais de
educação das descobertas novas, e que são muitas, no terreno da própria
aprendizagem, no terreno
da explicação de como é que alguém aprende à luz de muitos pesquisadores e
estudiosos no mundo todo. É essa a faixa da atualização pedagógica que vamos
encetar com a maior coragem, não só amanhã com o encontro já deslanchante disso, mas como o curso em 10
sábados, com o maior cuidado, ao mesmo tempo com o acompanhamento escolar em
cada escola por pequenas equipes. De modo que essa é uma grande preocupação de que haja uma reviravolta
nos esquemas didáticos dos nossos professores e que o problema da violência que
grassou torrentemente nas escolas de turno integral, no ano passado, é vinculado ao
problema pedagógico, porque se é difícil se manter uma turma de 25, 30, 35
alunos quando se tem um programa a seguir, mais difícil ainda é manter essas mesmas crianças nesse mesmo esquema de 30, 35
crianças, durante a tarde com esses mesmos colegas e que não aflorem todos os
comportamentos inadequados. Porque permanecer com o mesmo grupo, durante o dia
inteiro, durante 180 dias letivos, não é bom no aspecto social. E recomendo o trabalho
de pesquisa, o Caderno de Pesquisa, o trabalho de Vítor Paro sobre o problema
social, sobre a diversificação de grupos com os quais nós temos que ter contato,
como enriquecimento pessoal. E a fixação de um grupo único durante 180 dias letivos,
para as crianças permanecerem de 8 a 10 horas, tem conseqüências como essa da violência
O SR.
PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. José Valdir.
O SR. JOSÉ
VALDIR: Srs. Vereadores, Secretária
Esther, inicialmente quero colocar que tive que me ausentar do Plenário para
resolver um problema ligado à atividade parlamentar. Assisti ao pronunciamento de V. Sª e quero-lhe dar os parabéns por
ter respondido com clareza às constantes indagações desta Casa que colocavam o
temor de que a Administração da Frente Popular iria assim quase que dinamitar os CIEMs, as Casas da
Crianças. Acho que V. Sª. colocou muito claro que nada disso está em questão. O que está em
questão é uma linha de trabalho, uma linha de educação e essa sim é divergente da que os companheiros do PDT defendem aqui. Porque de fato nós, e eu
digo nós, não só a
Administração da Frente Popular, mas nós educadores há muito tempo questionamos
a escola, questionamos os métodos de ensino, questionamos os objetivos dessa
escola que no nosso entender que acho que os companheiros do PDT deveriam fazer essa reflexão também na medida em
que defendem e reivindicam
o socialismo. No nosso entender a escola é um aparato ideológico através do
qual se passa não
esclarecimento, não só apropriação daquilo que é patrimônio da humanidade que é o saber, mas junto
com isso, às vezes,
isso transmitido de
forma muito ruim, passam a ideologia que nós, socialistas, queremos exatamente
combater, que é uma ideologia de uma outra classe que passa através da escola nas vilas populares. Então, nós temos
levantado aqui nessa discussão do CIEM exatamente essa questão. Para nós, revolução
na educação não é apenas construir belos prédios, luxuosos prédios, porque isso até pode ser uma forma mais
eficiente até de passar essa ideologia de dominação para a classe
trabalhadora. Nós entendemos que revolução na educação não é só isto, nós entendemos
que revolução na educação é justamente fazer uma educação voltada, e respeitando a cultura popular, para os interesses populares.
Essa é a primeira questão, enquanto não tiver isso não tem revolução na educação. Tem a repetição
até de forma mais eficiente de uma ideologia, porque ela é traçada com
equipamentos mais sofisticados. Essa é uma questão que eu queria deixar clara. Há outras questões que os
companheiros do PDT levantam e a gente questiona a visão que os companheiros
têm, como se a educação, a escola tivesse um poder muito maior do que ela tem
nesse sistema que nós
vivemos, como se ela fosse redimir a classe operária, como se ela fosse
resolver o problema da marginalização, como se ela fosse resolver o problema da
fome, da desnutrição
através de uma merenda, como se ela fosse resolver esses problemas. E nós,
socialistas, sabemos que só vamos resolver no dia em que iremos transformar
esta sociedade, aí quando colocamos essas questões, esses companheiros, contraditoriamente com um projeto
socialista que defendem, apelam para um senso comum e rebaixam a discussão
colocando que somos contra a merenda escolar, que nós não queremos que as
crianças tenham um bom atendimento, que nós somos contra um melhor equipamento da escola, e não é nada disso.
E há outra questão que me parece ser a questão
central, e os companheiros fogem sistematicamente do debate é de que o CIEM como política
global para resolver essa falta de vagas, ele é inviável, ele é inviável
pela questão financeira. Já coloquei isso na tribuna, embora aproveitando da minha inexperiência inicial
eles conseguiram, de certa forma, confundir algumas coisas, mas é totalmente
inviável e não precisa muitos levantamentos para concluir isso. Eu cito um exemplo: hoje, pela
manhã, fui à minha
escola para resolver problemas funcionais, é escola estadual. No ano passado,
tinha dez turmas, este ano foi preciso fazer, - Escola Santa Rosa – treze turmas de 1ª série e tem filas lá no CIEM quem é a 800 metros
dali e tem mais uns 50, uma lista de espera que está esperando uma nova turma que não tem espaço na
escola e porque não tem professor. E tem a história do Manoel lá na vila. O
Manoel tem três filhos, o primeiro conseguiu vaga no CIEM, ele ficou felicíssimo; o segundo conseguiu vaga
na Santa Rosa, que é
a escola tradicional,
com todos os problemas que nós conhecemos, ficou menos feliz e o terceiro não
conseguiu vaga em lugar nenhum e o Manoel está pensando hoje que talvez o CIEM não seja a
solução, talvez tenha que ter uma solução para todos os três filhos e o Manoel
é um símbolo que estou usando porque são centenas de Manoéis que têm na região
da grande Santa Rosa.
Então, a questão que se coloca e que vão cobrar aqui é por que nós vamos acabar
com os dois turnos? Nós não vamos acabar com os dois turnos, nós vamos colocar aquela
comunidade, agora vão chamar apenas aqueles que, por sorte ou por privilégio,
conseguiram os dois turnos, vamos chamar toda a comunidade e colocar essa discussão. E eu não tenho dúvidas de
que a grande maioria da comunidade, que talvez tenha mais bom senso que alguns
companheiros, alguns Vereadores,
eles vão optar por aquilo que o socialista deve defender, que é a igualdade para todo o mundo, que é o tratamento igual. E isso não significa que
nós estejamos defendendo a escola convencional, porque é outra pecha que nos
jogam quando a gente questiona os fundamentos do CIEM – é dizer que a gente está defendendo a escola
tradicional. Nós nunca defendemos, nunca defendemos. Nós somos contra que, numa situação grave destas, de crise em todos os
sentidos da educação, se pense apenas em construir alguns prédios para alguma parcela e não se pense
globalmente a questão da educação, que como eu disse não é só prédio. Tem que
pensar o objetivo, e uma série de outras coisas, as técnicas de ensino, a metodologia
de ensino adequada que valorize a experiência de vida das classes populares. E
por falar nesses projetos que a meu ver são fora
da realidade, que não
é o projeto da Frente Popular, e aí a minha divergência de fato, agora nós não
vamos deixar de utilizar isso que isso foi construído com o dinheiro público. Nós vamos
dar uma utilidade, a melhor utilidade possível. A mesma coisa é a Casa da Criança. A Casa da
Criança é um projeto totalmente inviável no meu modo de entender, porque vivi a
experiência como Presidente da Associação de vila carente. Porque como é que uma comunidade de vila carente recebe é verdade, um
belo prédio, muito bem equipado. Mas como é que a comunidade vai manter, às suas expensas, 18 funcionários; quem concebeu isso, concebeu esse projeto nas nuvens, fora da realidade. E nós não vamos compactuar com
isso. Agora, vamos destruir a Casa da Criança? Não vamos destruir, vamos dar a
melhor utilização. E é sobre isso que eu queria colocar para a Secretária a seguinte questão: o que é
que está se pensando em termos de garantir que essas 100 Casas da Criança – me parece que ainda não
foram construídas
todas – mas que elas realmente se tornem viáveis, porque do jeito que elas estão, com o
projeto que as informa, não são viáveis. A comunidade não têm condições e essas Casas da Criança vão acabar caindo na mão de
comunidades que não
são as mais carentes, ou então as comunidades ligadas às igrejas, que tem uma instituição
mantenedora por trás. Então, eu quero saber se existe alguma preocupação nesse sentido para
viabilizar. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. ESTHER
GROSSI: Eu gostaria de responder, em
primeiro lugar, com relação à primeira colocação de que a escola seria a
responsável pela busca de solução de todos os problemas sociais, desde o
problema da mãe que
tem que trabalhar fora oito horas por dia até o problema da alimentação, que é
realmente uma transferência, para a escola, de um problema muito mais amplo, e
é preciso que seja buscada sua solução efetivamente a nível estrutural. Por outro lado,
a pergunta direta sobre as Casas da Criança nós, que temos ouvido as
comunidades que têm
ido com muita freqüência à SMED, sentimos exatamente isso: que é inviável que
as comunidades possam manter essas Casas da Criança. Então, quanto ao nosso
projeto, estamos em trâmites de financiamento de agências internacionais que possam garantir a
construção das Casas da Criança, inclusive com a mão-de-obra das próprias
vilas, e que a Prefeitura possa garantir o funcionamento, junto com a
comunidade, no sentido
de contar com o apoio da comunidade e recrutando pessoal da própria comunidade
para que tome conta dessas Casas da Criança. Mas, sobretudo, nós estamos
pensando na orientação pedagógica dessas Casas, no traçado de uma pedagogia
para o atendimento de crianças de 0 a 6 anos, que se configura com uma lacuna, não só de Porto Alegre, mas do
mundo, a definição nova do que seja uma boa pedagogia para as crianças de 0 a 6
anos, que passam a ficar longe dos pais e que, com um certo número de crianças, o que seria
realmente o ideal para elas, que as Casas da Criança não fossem apenas guarda e
assistência, que muitos chamam de depósito de crianças, mas que pudessem ser um lugar de
desenvolvimento psicológico, afetivo, cognitivo e social.
O SR.
PRESIDENTE: A palavra com
o Ver. João Motta.
O SR. JOÃO
MOTTA: Nós estamos fazendo este debate
sobre educação já há algum tempo e me parece que, ao longo desses debates ficam mais visíveis
as premissas que sustentam ou que sustentaram o Projeto de Educação defendido e proposto pela Administração Collares
e a insistência com que o Ver. Vieira da Cunha coloca a questão da excedência, inclusive tentando
impor à atual Administração a necessidade de que prove matematicamente, que
localize esses 40 mil e não só isso, insiste em afirmar que não existe uma
projeção, mas que é um cálculo exato da Administração. Ela não tem um sentido
em si, ela tem o sentido Ver. Vieira da Cunha, de legitimar toda uma
política que foi administrada no Município de Porto Alegre na última gestão e
que tinha como um dos seus pontos de partida aquilo que a ex-Secretária Neuza Canabarro também
afirmou, pela imprensa, de uma forma visível e ampla para todo o Estado e o País.
Qual era a afirmação? A afirmação de que não há excedentes no Município de
Porto Alegre. Mas nós vamos verificar neste debate que a preocupação do Ver. Vieira da Cunha não é
só levantar a sua preocupação fundamental, razão pela qual o Vereador está
insistindo tanto neste debate. Ela é fundamental porque ela está, na verdade, legitimando e
fundamentando o Projeto de Educação que foi estabelecido no Município. Vejamos
ainda alguns dados, algumas referências e alguns fundamentos desse Projeto de Educação que não é
só a questão da excedência. Na realidade, a questão da excedência é o ponto, a forma
pela qual se extravasa todo o debate sobre a concepção, em última instância, que se trava ou que se deve elaborar para a questão
da educação neste momento. A primeira delas é a questão dos excedentes, ela é
assumida apenas para justificar a construção de novas escolas, como se isso
respondesse à questão
da educação e não como sendo apenas um momento que deve considerar também que a
questão da educação
não é composta apenas pela questão do prédio em si, mas também na questão da
educação, quando V. Exª
fala, localizo, Ver. Vieira da Cunha, uma contradição na sua preocupação e no
seu discurso. A educação, para nós, ela engloba a questão da aprendizagem, da
alfabetização, a
questão da quantidade, da qualidade do ensino e a questão da educação
universal, ou seja, dar educação para todos os setores explorados e oprimidos
da sociedade.
Segundo, que essa escola, ela é uma instituição
responsável pela segurança e assistência de uma parcela dos filhos das classes
populares e, mais uma vez, remete para segundo plano, omite a questão da
universalização do ensino.
Terceiro dado, que a escola de tempo integral é de
fato o único modelo capaz de responder à possibilidade já colocada pela
Secretária, nesta última intervenção, de garantir o aumento da renda da família através do trabalho da mãe,
prevenindo, portanto, dessa forma, os riscos de marginalização e garantindo,
portanto, as possíveis condições para garantir a aprendizagem dos filhos.
Gostaria de concluir, colocando que discordo dessas premissas e desses fundamentos
que defendem e que compõem toda essa visão do Projeto de Educação assentado
sobre o CIEM, porque, no meu entendimento, essa visão, ela se volta a parte e não ao universo das
crianças e mantém as crianças afastadas de seu meio social que, inclusive, é
visto de uma forma preconceituosa e alienada, de que esse meio social é
degradante e que, portanto, a forma de prevenir a marginalidade é afastar as crianças desse
meio, isolando e afastando as crianças. Ela encobre a verdadeira origem da
marginalidade numa sociedade de classes que é exatamente as relações sociais hegemônicas
existentes nessa própria sociedade.
Portanto, eu apenas gostaria de levantar esse dado
que vem me chamado a
atenção nessas últimas horas, que fica apenas como uma lembrança neste debate
sobre o aproveitamento escolar dos CIEMs. Os dados já foram colocados, eu vou repetir. Em 1985, tínhamos três escolas atendendo 2.023 crianças da 1ª série; em 1988, nós tivemos 23 escolas atendendo
4.211 crianças da 1ª
série, mas somente
das 4.211 crianças,
2657 foram aprovadas. Isso significou que nós fizemos todos os investimentos
que foram feitos para aprovar apenas 623 crianças a mais. Então é sob esse
ponto de vista que me parece que está correto, de fato. Quer dizer, por mais esse fato, está correta essa
proposta da atual Administração
de repensar e de recriar, inclusive, se for o caso, até mesmo o aproveitamento
dos CIEMs do Município
de Porto Alegre.
Para concluir, apenas gostaria de lembrar a
Secretária sobre esses dados de excedência, se a Secretaria tem alguma informação sobre dados
de excedência em algum outro Município da área metropolitana de Porto Alegre.
(Não revisto pelo orador.)
A SRA. ESTHER
GROSSI: A essa pergunta tenho que
responder que li esses dias no jornal que em Viamão há 12 mil crianças
excedentes, com o argumento e com experiência de um Secretário de Educação do PDT que se
assemelhava muito às nossas experiências. Sonega-se que há excedentes, porque já se coloca nas
escolas, de ante-mão
a placa de “não há vagas”. Acho que outras pessoas tiveram a oportunidade de
fazer esse mesmo tipo de leitura. É a única informação que tenho a respeito,
concreta. Não sei, também, se o dado é comprovado
matematicamente ou se é a nível de projeção. Mas acredito que realmente o
problema seja geral, como o próprio Secretário de Educação do Estado disse que o problema das excedências é brasileiro, não só gaúcho. É sabido,
através dos dados do Ministério de Educação que há 10 milhões de excedentes
entre 7 e 14 anos.
Mas gostaria de acrescentar ao que já foi dito
depois desse depoimento que, quando nós fazemos essa análise sobre o rendimento
dos CIEMs contrapondo ao das escolas de dois turnos na própria Prefeitura, nós
não estamos querendo dizer que as escolas de dois turnos estejam satisfazendo,
que 83% seja um índice
aceitável. O índice aceitável, em 1ª série, que se preze, em escola que realmente não é só
escolaridade, mas é
realmente educação, como já foi levantado aqui, é
acima de 95%. E as crianças de classes populares têm condições de atingir esses níveis.
Então, mesmo as escolas da Prefeitura que tiveram
níveis superiores aos CIEM estão todas elas conclamadas a rever a sua proposta
pedagógica. Essa realmente, é a palavra de ordem é o nosso apelo neste início
de ano letivo de 1989.
O SR.
PRESIDENTE: O próximo
orador inscrito é o Ver. Adroaldo Corrêa.
O SR. ADROALDO
CORRÊA: Srª Secretária, companheiros Vereadores. Vou buscar um
pouco da sua paciência, mas acredito que é necessário que se constitua aqui um
exemplo do que poderia – é a pergunta que gostaria de fazer – significar
comparativamente, nós, que somos adultos, nós, que passamos pela escola, e o Líder Vieira da Cunha tem
formação universitária, que apenas após quatro horas já se insubordinou por umas três, quatro ou
cinco vezes contra o Regimento, fazendo apartes anti-regimentais, não indo à
violência, porque ficou
nas palavras, mas a incontinência nos gestos. Isso dentro de oito ou dez horas. O que me parece ser
o questionamento fundamental da proposta pedagógica da Secretaria, hoje, revela
o que é capaz a
instituição total. E gostaria que a senhora falasse do que é uma instituição total, que ficou
perceptível durante as várias informações, mas não enquanto um pronunciamento
específico sobre a
instituição total e a educação formal que é dada, e as alternativas da
instituição total que estamos estudando. A Prefeitura Municipal está estudando,
a população de Porto Alegre está estudando, até porque, se por discutir e
conversar com pessoas que não são do Governo da Frente Popular, que trabalham no Governo
do Estado, cujo representante aqui neste momento é o Ver. Luiz Machado, que trabalhou o QPE, que
desorganizou os professores e a comunidade escolar do nosso Estado, que dá sustentação ao
Governo Sarney, que é responsável pelo arrocho salarial dos trabalhadores, a
convenção do PMDB vai
discutir, inclusive, se eles são governistas, ou meio governistas, como diz de
novo, incontinente, o Ver. Vieira da Cunha, Líder do PDT.
Então, se o Vereador
responsabiliza a Secretaria Municipal de Educação em Porto Alegre pela
assistência a todo um conjunto de dificuldades da população, propiciada, primeiro, na parte
sócio-econômica pelo
governo Sarney, segundo, na parte educacional, muito tendo a ver com o seu Governador do Estado, que ele não se recorda que o seu Secretário foi o
desorganizador do
processo de educação que vinha sendo questionado pelos próprios professores
dentro das comunidades escolares. Aliás, foi depois dos 96 dias de greve, e o Governador não atendeu a nenhuma
das reivindicações, que o QPE entrou em evidência no Estado do Rio Grande do Sul, já tendo sido experimentado em Pelotas, pelo Prefeito da época,
ex-Secretário, aqui, Bernardo de Souza. Gostaria de fazer essa relação, porque
nós não vivemos uma sociedade particular em Porto Alegre, ela está dentro do Rio Grande do Sul, que está dentro do
Brasil, que sofre uma dependência do capital internacional acatada por uma
porção de pessoas, que faz parte de alguns partidos que aqui se fazem
representar. E as pessoas nos exigem imediatamente responsabilidade que
deveriam ter sido atendidas já pelo Governo do Estado e pelo Municipal em épocas
anteriores.
Estava aqui presente, acredito que ainda está, o
Sr. Geraldo, que pergunta: na Vila Nova Brasília foi feito o mutirão, como a comunidade se
informa a respeito de como serão feitos os atendimentos às excedências
verificadas? Isso já foi dito, mas a pergunta é específica à Vila Nova
Brasília. Há um comunicado, há um aviso em casa por casa...
(Aparte anti-regimental.)
O SR. ADROALDO
CORRÊA: Não só o aparte é anti-regimental, como o Ver. Luiz
Machado volta a exigir as 8, 10 horas na Restinga para as crianças que estão em fase de aprendizado.
O que eu queria ver era a relação objetiva entre aprendizado-autonomia e
instituições totais.
Esta é a minha pergunta.
A SRA. ESTHER
GROSSI: As instituições totais, em
educação, elas realmente funcionam para forjar pessoas dentro de um modelo,
como dentro do exército, dentro da igreja, etc. Realmente todos nós sabemos
qual é a qualidade
dessas pessoas dentro
da sociedade. Eu me referia no caso mais específico da criança que passa esse
dia inteirinho na escola, com problemas bem práticos que estão surgindo; já surgiram no Rio de Janeiro e estão surgindo
fartamente em Porto Alegre. A dificuldade das crianças de manterem um clima de
cordialidade, de bom humor, relacionamento construtivo e sobretudo de que esse mais tempo na instituição não significou para essas crianças mais aprendizado.
Então, poderemos fazer um estudo de como aproveitar o outro turno para atividades
alternativas, dentro de uma mesma escola, mas sempre com vistas a que haja para as crianças de classe
popular maior oportunidade de diversificação de experiência social no convívio o mais variado, com outros tipos de comunidade. Eu penso que esse
isolamento das escolas entre si talvez possa vir a ser enriquecido por um
intercâmbio que
possamos provocar entre escolas do Estado e do Município, justamente como uma das
modalidades, que é um desafio para nós, de substituição dessa instituição total que traz
tantos malefícios para a formação da personalidade das pessoas e aquele desejo
de formação de um
cidadão aberto, solidário, comprometido politicamente, etc.
O SR.
PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Flávio Koutzii.
O SR. FLÁVIO
KOUTZII: Eu acho que a
dinâmica que este debate teve no dia de hoje e que teve sempre neste Plenário nestes
dois meses em que este tema foi um dos pivôs da polêmica, especialmente entre a
Bancada do Governo e a Bancada do PDT, permite realmente sublinhar, independente das esgrimas
inevitáveis nesta atividade parlamentar, uma coisa muito substantiva. Todos,
sem exceção, Vereadores e Secretária, tiveram uma discussão muito direta sobre
conteúdos precisos.
Eu acho que se permitiu, não definitivamente, porque a política não permitirá
isso, colocar num
terreno muito mais objetivo e concreto o que é a diferença de concepção
pedagógica, o que são
também as diferenças políticas, ideológicas que, inclusive, nutrem as
concepções de soluções no terreno da educação e acho que tudo é de um extraordinário proveito,
porque foi marcante, na exposição de hoje, quando, em determinado momento,
tivemos 22 Vereadores na Casa. Eu me permito mesmo interpretar que uma gradual
defecção do Plenário
não se deveu somente ao adiantado da hora e ao eventual cansaço, mas ao fato da
forma sólida e consistente com que a Secretária defendeu as orientações
políticas, educacionais e pedagógicas com absoluta serenidade, com absoluto
respeito, mostrando que não é, em primeiro lugar, uma política que improvisa
sobre educação. Nós
achamos que isso é
muito importante, porque há limites entre nós, ao nível do nosso próprio
auto-respeito, do respeito ao nosso tema e pela seriedade do que dizemos na
esgrima parlamentar. Acho que ficam assentadas divergências e fatos que permitem,
certamente, que esse debate possibilite eliminar pelo menos alguns aspectos
secundários e
completamente adjetivos da discussão. O que fica entendido por mim, o que eu
acho que é um balanço muito nítido dessas horas de trabalho em comum, é
que, se nós tivéssemos que
resumir, há uma divergência de concepção entre o PDT e a Frente Popular, que eu resumiria: o PDT
prefere a concepção de uma escola de turno integral durante o dia, mesmo que,
do ponto de vista econômico, ela seja inviável em termos de ampliação numérica,
apresentando isso
como um modelo de solução
que extrapola o terreno da educação. De fato, no nosso entendimento político e ideológico se trata de um cartão de visitas,
que passa por solução global que é apenas uma solução parcial num terreno
limitado, quer dizer, que feito sinceramente por pessoas com preocupações progressistas
e de modificação do
nosso País, acaba se apresentando uma velha questão, expressão reacionária
tradicional, muito usada pela direita, de dizer que o problema do nosso povo é um problema de educação. O
problema do nosso povo é um problema do sistema social sob o qual ele vive, e
sei que muitos Vereadores partiram dessa idéia aqui, mas eu quero ir ao âmago e ao fundo da nossa
divergência. É por isso que, não só somos socialistas como usamos, muitos de
nós, o instrumento da análise marxista para interpretar a nossa realidade.
Estamos convencidos que o sistema capitalista, especificamente nos países subdesenvolvidos, com a sua
radical e brutal exploração, está na raiz e no impedimento da solução de
problemas mais profundos. Quem quiser escolher – acho que é o caminho dos companheiros
do PDT – o caminho de apresentar, de contornar a abordagem direta deste que é o
centro da questão, através de uma solução-milagre, que é limitada, mesmo que possa ser
muito interessante, ultra-localizada, está, de fato, eu acho, induzindo a um
mau entendimento da
população no terreno político global de como e para onde ela deve caminhar para
se libertar do jugo e da exploração. O nosso entendimento – e isto é muito
importante ficar claro – é de que, nem a Secretária, nem nós Vereadores,
nunca, nem a administração do PT, atacamos ou fizemos esse tipo de abordagem mais
profunda que estou tentando fazer – este é um outro nível de debate – mas nunca
atacamos diretamente os CIEM enquanto tal. A administração do PT não fez e não fará a
obra de destruição social do Governador Moreira Franco, que destruiu
fisicamente os CIEPS no Rio de Janeiro, condenando à inutilidade e à esterilidade absoluta o que era o
produto dos recursos do povo aplicado num projeto, legítimo e válido do ponto
de vista daqueles que estão convencidos de que ele é o melhor. Isto está
absolutamente claro para nós e na palavra da Secretária. A nossa diferença, se
tivéssemos que
empunhar um slogan em síntese final, é de que, sim, nós preferimos mais vagas, portanto mais
educação com uma escola de um só turno, com mais escolas e mais espaços e, ao
mesmo tempo, não apresentando este misto complexo e ambíguo de soluções que estão embutidas dentro
desta concepção de educação, que tem, além disso, a criação dessa novidade onde a escola é um pouco escola, um
pouco creche, um pouco depósito, um pouco muitas coisas, um pouco alimentação,
mas não consegue,
digamos assim, resolver o problema de fundo. É por isso que querelas que têm havido entre
nós no terreno do que seria a nossa divergência na concepção pedagógica, do que seria
mesmo uma divergência na concepção de educação, é um desafio que permanece, não
é um mero artifício de polêmica em Plenário. O que disse o Professor e Vereador
José Valdir reflete aquilo que a sua experiência de lutador entre os professores pode
sintetizar com muito mais capacidade do que eu possa fazer. Nós temos uma visão
e especialmente o companheiro Líder do PDT sabe disso – acumulada há muito tempo, de uma concepção
pedagógica, de uma concepção de como virar pelo avesso essa educação condicionadora e
alienante. Não vamos conseguir fazer isso de um dia para o outro, é um extraordinário desafio, mas
este, para nós, é o centro principal do desafio e não temos nenhuma pretensão
de que vamos transformar as escolas municipais, em breve prazo, num foco de
modificação completa de parâmetros pedagógicos, mas vamos tentar, vamos iniciar, vamos, portanto, irradiar uma experiência feita
pelo outro ângulo, respeitadas as necessidades infra-estruturais, colocar também aquilo que é o
principal, que trabalha com a inteligência, com a sensibilidade, com a paixão
das pessoas, que é motivar, através de uma educação, e não só de uma coisa que
é importante e que está
preservada com a nossa posição, inclusive as questões de alimentação estão
claramente explicadas, que é o estímulo, o amor à educação, à inteligência e a
cultura que é o que pode fazer com que os índices espantosos de evasão e repetência não se dêem, esses dados trazidos aqui não são
absolutamente secundários, provam apenas que neste debate que requerem um
debate mais profundo, fica claro que os aspectos positivos do CIEM, indiscutivelmente eles os tem,
não resolvem o problema central da relação com a problemática da sua própria educação, por todos os motivos expostos
aqui ao longo das respostas da Secretária. Quarenta
e nove por cento num CIEM,
50%, 57%, só provam
isso. Ela mesma começou dizendo. Uma escola de um só turno piora 43%. Portanto
se trata de um debate ardiloso. E o Líder do PDT não somente é um brilhante Vereador, como ainda por
cima é um brilhante advogado
e tem a esgrima sempre pronta para responder. Não é briga de cifra, é a constatação, na experiência concreta e empírica,
proporcionada pela própria implementação do Projeto da Administração anterior
que mostra que o problema segue de perto. Queria agradecer, como Líder do Governo, a presença da Secretária, a
presença dos companheiros e colegas Vereadores e acho que nós tivemos um dia importante neste
debate que certamente vai-nos facilitar o trabalho nesta Casa.
A SRA. ESTHER
GROSSI: Tudo que foi dito hoje aqui, o
principal foi dito, e
por isso eu finalizo agradecendo a oportunidade de estar aqui e conclamando os
Vereadores a que trabalhemos juntos na solução desses problemas graves da educação dizendo,
completando com o que há de essencial nesta atualização pedagógica, ou seja, é que a
atualização pedagógica, ou seja, a nossa construção de uma proposta didática a
nível de Prefeitura vai passar pelo processo dos professores, de modificação dos seus conhecimentos, por
exemplo, ao se apropriar das novas descobertas científicas, por exemplo; vai
passar por um processo difícil e complicado de colocar a ciência ao lado da
cultura, construindo uma proposta que esteja direcionada para este tipo preciso
de alunos com os quais nós trabalhamos, das classes populares e, sobretudo,
pela transformação da sua visão ideológica com relação a essas classes. Esse processo não se dá porque
assistiram a uma conferência ou porque fizeram curso, vai ser fruto da correlação dialética entre a sua
prática, a sua experiência e o confronto de sua prática com a teoria, com o
pensamento organizado, com a reflexão que elas mesmas conseguirem, os
professores todos conseguirem elaborar.
Então, vai ser um processo lento, que nós vamos
respeitar, porque se nós dizemos que as crianças vivem um processo de
aprendizagem, já na alfabetização, esse processo tem que ser
respeitado pelo professor e, em primeiro lugar, a Secretária de Educação e toda
a sua equipe de apoio e os professores vão respeitar esse processo. E, juntos,
trabalharemos nessa direção. Portanto, nós não estamos aqui prometendo um
milagre para 1989, mas garantindo que em 4 anos de administração, perseguindo
esta atualização pedagógica diuturnamente, com todo o respeito aos professores,
com toda a confiança de que eles são capazes com toda a juventude espírito que têm de colocarem em cheque
aquilo que já faziam, inclusive, esta é a característica básica para que nós
progridamos. Porque aceitamos que haja lacunas, aceitamos que não sabemos tudo. Mas este é só um
passo, que não é o único, mas é indispensável para que vamos para frente,
confiando profundamente nesses professores e contando com toda a comunidade científica aqui
de Porto Alegre que já tem se expresso ao longo desses mais de dois meses, três
meses e meio, desde a vitória do PT que é possível, realmente, confiar-se muito na área da educação,
especialmente nas classes populares, onde o rendimento dessas crianças, a apropriação do
saber por elas, vai ter, não conseqüências totais, que nós sabemos os limites
do trabalho escolar, mas a consciência de que não só essas crianças, mas os pais dessas crianças serão modificados quando virem os seus filhos
aprendendo, desfazendo este estigma profundamente inferiorizante de que eles não são
capazes de se apropriar desse saber que a humanidade construiu, nós sabemos que
nós estaremos dando um passo para a sociedade e para o socialismo em nosso
País.
O SR.
PRESIDENTE: Antes de
encerrar mais esta
Sessão, nós agradecemos, mais uma vez, a presença da Srª Secretária de Educação, Professora Esther Grossi, de
sua assessoria, dos Srs. Vereadores e demais pessoas que estiveram aqui
presentes, na certeza de que nós podemos, através desse diálogo, desse debate, respeitando as nossas posições e as
nossas convicções chegarmos às soluções satisfatórias naquilo que nós propomos,
que é o objetivo de todos: a educação na nossa Cidade. E queremos dizer à
ilustre Secretária que, em qualquer condição, na condição de convidada, convocada ou mesmo
quando quiser prestar qualquer esclarecimento a esta Casa, a Câmara de
Vereadores de Porto Alegre estará aberta para receber os seus esclarecimentos.
É uma convidada permanente.
(Levanta-se a Sessão às 20h.)
* * * * *